Há quase seis anos, quando decidi abrir este espaço – o primeiro em português, exclusivamente dedicado à península coreana – julguei que iria ser muito difícil encontrar, diariamente, notícias sobre um dos países mais fechados do mundo.
Passado pouco tempo, fiquei espantada com a torrente informativa que chega desta inopinada geografia. São notícias produzidas quase ao minuto, com origem, sobretudo, na Coreia do Sul, no Japão e, ocasionalmente, nos Estados Unidos.
No entanto, quase todas as “notícias” surgem acompanhadas de um sublinhado: “uma fonte anónima”, “uma informação não confirmada” ou “dados não confirmados”.
Coloco a palavra “notícias” entre aspas para dar início a uma reflexão semântica, após a leitura deste artigo da Associated Press.
O que é “notícia” quando nos referimos a um país-eremita?
Diria que, à partida, uma “notícia” é uma novidade que deve ser confirmada para informar com verdade, embora o dicionário também admita que uma “notícia” é o “relato de um acontecimento feito por um jornalista ou à maneira de um jornalista”. E relatar implica descrever aquilo que se vê, admitindo a subjectividade de um olhar.
A Coreia do Norte raramente se deixa ver ou confirmar. Isto é, como diz à Associated Press, Kim Byeong-jo, professor da Korea National Defense University, em Seul: “The less we know about a country, the more rumors we tend to create about it.” Ou então, “when curiosity is especially strong, rumors grow more sensational. … Imagination takes over where facts are scarce and sources are unclear.”
Na Coreia do Sul, titula o artigo supra-citado que há uma “especulação desenfreada sobre a Coreia do Norte”. Os jornais, as televisões e as rádios têm editorias e jornalistas exclusivamente dedicados a “notícias” sobre a Coreia do Norte. O mesmo é dizer, especialistas em rumores norte-coreanos.
O artigo da Associated Press vem a propósito da “notícia” do afastamento do vice-marechal norte-coreano Ri Yong Ho. A Coreia do Norte anunciou que o afastamento ficou a dever-se a questões de saúde, mas a “notícia”, fora de portas, não pegou.
“It takes time for real facts to emerge when information is controlled. In North Korea’s case, it takes even longer, and, worse yet, truth may never even surface.”
A frase do professor Kim Byeong-jo é uma espécie de resumo para o ponto prévio que é necessário fazer de tempos a tempos.
A palavra notícia – e o que ela significa – sobre a Coreia do Norte, será sempre grafada entre-aspas. Mesmo que o sinal gráfico não esteja lá.
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