O encontro entre o Comando da ONU e a Coreia do Norte aconteceu, finalmente, esta quinta-feira, em Panmunjon. As partes prometeram voltar ao diálogo.
Pode não parecer, mas esta decisão já significa um grande avanço, ainda para mais porque os representantes militares do Comando das Nações Unidas são norte-americanos.
Enquanto isso, os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão a planear uma série de exercícios militares conjuntos, para aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte. Na próxima semana, os secretários norte-americanos da Defesa e de Estado, Robert Gates e Hillary Clinton, vão até Seul discutir os detalhes da operação.
Ora, e não vá a diplomacia tecê-las, nestas coisas de Estados tecnicamente em guerra (como é o caso das Coreias), o melhor é ter preparação militar desde bem cedinho. Na Coreia do Sul, há acampamentos militares de três dias que fortalecem o corpo e o espírito dos mais jovens.
[Foto: Associated Press]
Por outro lado, o sistema de saúde da Coreia do Norte está como as crianças desta foto: na lama. A Amnistia Internacional entrevistou mais de 40 dissidentes norte-coreanos e concluiu, num relatório, que a saúde está “em ruínas”.
Infelizmente, nada de novo e diferente daquilo que o médico alemão, Norbert Vollertsen, me contou em 2006, na Coreia do Sul.
Em 1999, Norbert ofereceu-se para prestar assistência médica na Coreia do Norte e lá viveu durante 18 meses. Deixo-vos parte do relato impressionante de Norbert:
Em frente a qualquer hospital há uma farmácia, mas se as pessoas não tiverem won, a moeda local, não podem comprar esses medicamentos. Às vezes, são obrigados a pagar em moeda estrangeira, euros ou dólares. Isso significa que só os membros da elite do Partido dos Trabalhadores conseguem tratamento. Por isso, é bastante irónico que digam na Coreia do Norte que a saúde é de graça.
Um dia, num hospital de uma zona rural, deparei-me com condições impensáveis. Não tinham desinfectante, nem sabão, nem medicamentos, nem comida sequer para alimentar os médicos. Por isso eles também estavam fracos. Mas estavam a operar. Apesar de todas estas falhas, estavam a operar uma miúda de 13 anos a uma apendicite. Não queria acreditar naquilo que estava a ver. No meio daquelas condições, sem qualquer higiene, sem sabão ou água corrente, estavam a operar! Perguntei-me: «o que é que se passa aqui?» Eu e os meus colegas estávamos a olhar para aquilo e ficámos sem palavras. Ali estava aquela miúda, deitada na marquesa, semi-nua e sem qualquer anestesia, ou droga. Nunca vi nada assim. E ela, claro, estava muito consciente. Tremia e chorava silenciosamente. Sentimo-nos tão impotentes. Senti que estava na Lua ou em Marte, porque era um cenário tão invulgar. Parecia um filme. Agarrei-lhe numa das mãos e o meu colega agarrou-lhe na outra. A única coisa que pudemos oferecer foi a nossa mão ocidental. Ela devia estar a sofrer tanto…E a operação continuava. Como era o nosso primeiro contacto com a Coreia do Norte, e era apenas uma visita, não tínhamos trazido medicamentos. O que é que podíamos fazer? Confiámos nos médicos, porque a operação era necessária. E, no final, até me mostraram o apêndice que estava bastante infectado. Sei que até na selva se operam apendicites, mas utiliza-se whisky barato para deixar os doentes um pouco trôpegos, anestesiados. Mas esta miúda estava muito consciente, não estava a dormir, não estava bêbada. Eu e o meu colega até chorámos, sentimo-nos embaraçados porque éramos médicos e não podíamos fazer nada, não podíamos parar o processo. Surpreendentemente, sobreviveu. Uma semana depois, vimo-la outra vez, porque estávamos tão preocupados que fomos até lá e vi uma jovem norte-coreana muito forte. A maior parte das mulheres norte-coreanas são muito corajosas e rijas. Ela sorria, estava acordada e saudável.
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