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Archive for Outubro, 2007

O Campo nº14

[Foto de AFP]

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Shin Dong-hyuk escreveu um livro perturbador.

Nasceu no campo prisional nº14, na província de Pyongan do Sul, a norte da capital, Pyongyang, em 1982. O pai de Shin foi preso em 1965, depois de dois dos seus irmãos terem tentado fugir para a Coreia do Sul. Quem foge deixa um castigo para os familiares. Na apresentação do livro, ontem em Seul, Shin enviou uma mensagem a Kim Jong-il: “gostava que tentasse viver, nem que fosse por uma hora, num campo prisional”. Aos 14 anos, foi obrigado a assistir à execução da mãe e do irmão, que tinham tentado fugir do campo.

Em 2004, travou amizade com um rapaz, Park, que lhe trouxe uma visão do mundo exterior. Um ano depois, foi-lhes atribuída a tarefa de apanhar lenha, perto da cerca de arame farpado, no perímetro do campo prisional. Nem hesitaram. Tentaram fugir pela rede de arame, mas Park ficou entalado. Shin continuou a fuga, mas ainda hoje guarda as cicatrizes desse momento (ver foto). Mais tarde, conseguiu subornar com arroz um guarda norte-coreano, junto à fronteira com a China. Há um ano, chegou à Coreia do Sul.

Shin conta agora que não conhecia a palavra justiça. A fome, os trabalhos forçados e a curiosidade foram os motivos da fuga. Só ficou mais perto de perceber o que são direitos humanos quando chegou a Seul. Aí pôde olhar e fazer comparações.

 

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Thaechon é uma província a norte de Pyongyang, banhada por muitos rios e ribeiras.

É nesta terra que corre o rio Taeryong, já apelidado de “rio da electricidade”. Nele aninham-se inúmeras barragens onde trabalham jovens engenheiros norte-coreanos. E neste curso de água desagua o que de melhor há na Coreia do Norte, ao nível da tecnologia. Kim Jong-il aconselha a população a seguir “o espírito de Thaechon”, que é como quem diz, o espírito do empreendedorismo.

Mas não basta dizer, é preciso mostrar. Por isso, há um novo filme do Estúdio Coreano de Filmes Científicos e Documentários – estas instituições levam sempre nomes com mais de 50 caracteres. Traduzindo, dá qualquer coisa como “Deixemos que os mais novos persigam o espírito de Thaechon”. O documentário mostra como o poder económico vai emergir mais cedo do que o previsto, graças aos jovens que contribuem com os trabalhos mais difíceis e duros da construção socialista.

Esta ideia é de reter. A Coreia do Norte é a mais fiel seguidora da história chinesa. A China abraçou e abraça uma reforma económica antes de uma reforma política. O “espírito de Thaechong” pode muito bem ser o início da abertura norte-coreana ao capitalismo.

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Correndo o risco deste blog se aparentar com um jardim, venho por este meio dar conta de mais uma nova espécie da flora norte-coreana. A cardamine flexuosa cresce entre 10 e 30 cm. Em todo o mundo, há mais de 100 espécies, 14 delas na Coreia do Norte.

A nova espécie foi encontrada nas montanhas de Myohyang e a descoberta tem a assinatura do Centro Botânico.
Visitei estas montanhas em Agosto de 2006. Será que tropecei nesta cardamine flexuosa?

 

 

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Depois das cheias deste ano – e se nada for feito -, a Coreia do Norte pode ficar a braços com a fome, no próximo ano. O aviso vem de Kwon Tae-jin, um investigador sul-coreano do Korea Rural Economic Institute. O artigo está na Agência Yonhap.

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A Filarmónica de Nova Iorque foi convidada a actuar em Pyongyang. Lê-se no PlaybillArts Club.

O presidente, Zarin Mehta, visitou esta semana a Coreia do Norte, encontrou-se com o ministro norte-coreano da Cultura e agora está a estudar o convite.

Aqui fica o excerto de um concerto para violino de Mendelssohn, no Avery Fisher Hall, em 1995. O vídeo é do You Tube.

Quem percorre as cordas com a crina do arco de madeira é Sara Chang. É uma jovem artista, mundialmente conhecida, que começou a estudar violino aos quatro anos. Chang nasceu em Filadélfia, nos Estados Unidos, mas é de ascendência coreana!

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Esta é a reportagem que resultou da minha viagem à Coreia do Norte e que foi emitida a 24 de Setembro de 2006 na Antena 1. A montagem é de António Antunes.

“Coreia do Norte: um segredo de Estado” recebeu uma Menção Honrosa no Prémio AMI: Jornalismo contra a Indiferença.

Parte I


Parte II


Parte III

Parte IV



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Amigo Pak

 [Fotos de Rita Colaço, Coreia do Norte, Agosto/2006]

Já tinha prometido voltar a falar de Pak Kwang Ung, o secretário-geral do Comité de Relações Culturais com o Exterior.

Pak deve ter agora 54 anos. Resolvi deixar-lhe esta lembrança. Pode ser que ele tenha oportunidade de ver estas fotografias, um dia.

Pak ficou como uma espécie de pai norte-coreano e fez de tudo para mostrar o melhor da Coreia do Norte. “Mi nación”, como sempre acrescentava nas frases. Pak estudou em Cuba e domina o castelhano.

Sempre disponível para responder a todas as perguntas sobre o seu país, mesmo as mais incómodas, Pak esquivava-se a questões pessoais.

Sei que tem três filhos e o mais velho tem agora 18 anos.

Numa das noites, à volta de uma cerveja chinesa, Pak deixou cair um desabafo: “três filhos é um encargo muito grande. É melhor ter apenas um. A vida tem sido muito difícil. Já passei fome na crise de 1995 a 2000”. Depois disse-me que já tinha cometido “muitos erros na vida”. Tentei puxar mais o novelo, mas Pak enrolou-o de novo.

No dia seguinte, à tarde, encontrei-o bastante pensativo e de olhar triste. Perguntei-lhe o que tinha. “Nada”, respondeu. Disse-lhe o que estava a pensar naquele momento: “acho que és uma boa pessoa”. Pak apenas soltou: “Non! Soy un hombre muy malo”. Levantou-se e foi-se embora. Sobre o assunto, nem mais uma palavra durante toda a viagem.

Não sei que erros foram esses. Sei que durante 11 dias Pak nunca errou. Foi generoso e paciente para com as dúvidas dos ocidentais. No último dia, Pak foi até à porta de embarque para o avião. Deu-me um abraço envolvido numa tímida vergonha de quem admite uma tristeza. “Hasta breve”, disse por fim.

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O brinde

AP Photo/ Korea Pool via Yonhap

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O líder da Coreia do Norte (à direita) e Roh Moo-hyun, presidente da Coreia do Sul, assinaram uma declaração de oito pontos, um documento que promove a paz e o desenvolvimento das relações entre as duas Coreias, de costas voltadas desde a guerra de 1953. Nessa altura, foi apenas assinado um armistício.

Ainda não há um Tratado de Paz, mas esta cimeira de três dias em Pyongyang tem o mérito de, pelo menos, ter terminado com um brinde. E que belo vinho de framboesa produzem os coreanos! A Norte e a Sul!

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O editorial da secção de política do USA Today merece uma leitura.

É uma reflexão sobre o actual momento das Coreias. Um momento importante, sem dúvida, mas que deve ser analisado com pinças. Neste editorial, aviva-se a memória recente de como, há 13 anos, o Presidente Clinton lidou com a ameaça de construção de uma bomba nuclear norte-coreana.

O antigo presidente Jimmy Carter foi ao encontro de Kim Il-sung e juntos negociaram o fim do programa nuclear norte-coreano. Lê-se no USA Today que na altura foram abertas garrafas de champanhe. Uma celebração prematura. Em segredo, a Coreia do Norte continuou a desenvolver o seu programa nuclear.

Certo é que esta visita do presidente sul-coreano ao vizinho do Norte parece ser um sinal de mudança. Um sinal de que pode ser possível tirar a rolha ao pensamento dos coreanos e fazer borbulhar as palavras há tantos anos presas na garrafa de um sistema opressor.

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Esta é Lee Yong-ae. Dizem que é uma das actrizes favoritas de Kim Jong-il, mas Lee é sul-coreana. Ela faz de Seo Jang-geum na série “Daejanggeum” um sucesso televisivo na Coreia do Sul e na Ásia.

Em português, Daejanggeum quer dizer “uma jóia no palácio”.

Na Coreia do Norte, ver filmes ou séries feitos no Sul da península é tido como um crime. Mas não para o presidente. É que o homólogo sul-coreano, Roh Moo-hyun, ofereceu ao “Querido Líder” uma colecção de DVD’s com toda a série “Daejanggeum”, protagonizada por Lee Yong-ae.

Esta é a história de uma cozinheira do rei, que criou invejas e foi expulsa, aproveitou para estudar medicina e foi de novo aceite no palácio como a primeira mulher médica do reino, uma estrutura hierarquicamente rígida e dominada pelos homens. É, portanto, o enfoque no sucesso feminino. Uma jóia que mora agora no Palácio de Kim Jong-il.

Para saber mais sobre esta série e a Coreia do Sul, clique aqui.

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O presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun foi recebido em Pyongyang pelo aperto da mão de Kim Jong-il.

Caso raro, num encontro para tentar amenizar/terminar o conflito diplomático entre Norte e Sul, com mais de 50 anos.

Nas ruas, os norte-coreanos agitaram flores de plástico cor-de-rosa e vermelhas: um empurrão para uma esperança depositada no encontro dos extremos desta rosa-dos-ventos coreana.

A chegada de Roh foi transmitida pela YTN, televisão sul-coreana. Fica aqui um excerto de sete minutos retirado do You Tube. 

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