É já em Março que o Brasil vai abrir a primeira embaixada sul-americana na Coreia do Norte.
A casa da diplomacia brasileira vai custar 5 mil dólares por mês ao governo de Lula da Silva.
No total vão ser três funcionários e Arnaldo Carrilho é o embaixador destacado para animar o comércio bilateral.
FOLHA – Qual a importância política da embaixada?
ARNALDO CARRILHO – A Coreia do Norte é um país muito visado.
Não necessariamente pela comunidade internacional, mas pelos países que têm os grandes vetores do poder diplomático no mundo, como China e Rússia. Costumo dizer que o Brasil não é só o primeiro país da América do Sul, mas o primeiro país das Américas a instalar missão diplomática em Pyongyang. Com a exceção de Cuba, que é, entre aspas, suspeita, por também ser socialista.
FOLHA – O comércio crescente entre os dois países é o que mais anima a nova missão diplomática?
CARRILHO – O Brasil já é o quarto parceiro comercial do país asiático. Os primeiros são China, Rússia e Coreia do Sul. Estou indo para incentivar o comércio, principalmente o de alimentos, de commodities. Eles precisam de carne bovina, suína, galináceo. Claro que não temos a pretensão de 100% de lucros. Mas o importante é entrar na região, por o pé lá. Estou pensando muito também no comércio de importação do Brasil de magnesita, útil para revestimento de fornos.
FOLHA – O sr. pretende incentivar que o Brasil compre da Coreia?
CARRILHO – Eu sou de uma geração imbuída de uma ideia: quanto mais eu promovo o país onde estou em missão, mais eu estou promovendo o meu. Se tivermos um aumento comercial significativo com a Coreia, a gente vai poder ter uma presença maior, não só na Coreia em si, mas no nordeste da Ásia, uma região nevrálgica.
FOLHA – Como planeja entrar nas negociações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte?
CARRILHO – Vou fazer um périplo rápido, antes de ir para Pyongyang, por cinco capitais: Washington, Tóquio, Seul, Pequim e Moscou. São as capitais que, com Pyongyang, formam o grupo das conversações para estudar a questão da desnuclearização do país. Quero sondar cada um deles, conversar sobre o que pretendem fazer a partir de agora. Dependendo do que ouvir, vou me posicionar. O Brasil pode ter um papel importante nas negociações.
FOLHA – A embaixada é um sinal de uma nova conduta da diplomacia brasileira?
CARRILHO – Passamos atualmente por uma expansão muito grande, de uma nova personalidade diplomática. O Brasil surge como uma grande nação da América do Sul que não tem alianças, nem aliados, não tem essa coisa de se impor. O que o Brasil quer é ter uma personalidade internacional de acordo com o seu caráter nacional. E o caráter nacional brasileiro é normalmente solidário.
FOLHA – Quais serão os desafios em Pyongyang?
CARRILHO – Vou ter de depender muito de Pequim. A Coreia do Norte não aceita o dólar americano, e nós somos mantidos no exterior a dólar americano. Isso vai nos forçar abrir uma conta em dólar, talvez em Pequim.
Além disso, é uma população toda educada para a construção do socialismo, com profundo complexo anti-americano. Será um outro tipo de “aproach”.