[Fotos de Rita Colaço, Coreia do Norte, Agosto/2006]
Já tinha prometido voltar a falar de Pak Kwang Ung, o secretário-geral do Comité de Relações Culturais com o Exterior.
Pak deve ter agora 54 anos. Resolvi deixar-lhe esta lembrança. Pode ser que ele tenha oportunidade de ver estas fotografias, um dia.
Pak ficou como uma espécie de pai norte-coreano e fez de tudo para mostrar o melhor da Coreia do Norte. “Mi nación”, como sempre acrescentava nas frases. Pak estudou em Cuba e domina o castelhano.
Sempre disponível para responder a todas as perguntas sobre o seu país, mesmo as mais incómodas, Pak esquivava-se a questões pessoais.
Sei que tem três filhos e o mais velho tem agora 18 anos.
Numa das noites, à volta de uma cerveja chinesa, Pak deixou cair um desabafo: “três filhos é um encargo muito grande. É melhor ter apenas um. A vida tem sido muito difícil. Já passei fome na crise de 1995 a 2000”. Depois disse-me que já tinha cometido “muitos erros na vida”. Tentei puxar mais o novelo, mas Pak enrolou-o de novo.
No dia seguinte, à tarde, encontrei-o bastante pensativo e de olhar triste. Perguntei-lhe o que tinha. “Nada”, respondeu. Disse-lhe o que estava a pensar naquele momento: “acho que és uma boa pessoa”. Pak apenas soltou: “Non! Soy un hombre muy malo”. Levantou-se e foi-se embora. Sobre o assunto, nem mais uma palavra durante toda a viagem.
Não sei que erros foram esses. Sei que durante 11 dias Pak nunca errou. Foi generoso e paciente para com as dúvidas dos ocidentais. No último dia, Pak foi até à porta de embarque para o avião. Deu-me um abraço envolvido numa tímida vergonha de quem admite uma tristeza. “Hasta breve”, disse por fim.
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