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Archive for the ‘Entrevistas’ Category

Há uns anos, depois de regressar da minha viagem à Coreia do Norte, fui convidada a participar num programa de televisão (cujo nome prefiro não referir) e a primeira questão foi qualquer coisa como: “Então Rita, conta-nos, a Coreia do Norte é mesmo um país assustador, não é?”

De lá para cá, de uma ou de outra forma, a pergunta já me foi colocada 4567 vezes. E confesso que é a pergunta que mais me aborrece, porque ninguém tem pachorra para ouvir o necessário contexto da minha viagem e porque a minha resposta, qualquer que seja, será sempre controversa.

Quem ouve um “não, a Coreia do Norte não é um país assustador” pensa que  estou “feita com os gajos” ou questiona-se “como é possível dizer isso de um país que oprime as pessoas?”

Se responder que sim, que “é assustador”, lá vêm mais 433 pessoas dizer que me limito a reproduzir ideias feitas.

E ambos terão razão. Nem o não nem o sim são respostas boas. A pergunta, convenhamos, também não.

Uma resposta destas não se dá de supetão, mas tento resumir que julgo que apenas vi aquilo que me foi permitido ver; que claro que há muitas dúvidas que nos assaltam a cabeça durante uma visita à Coreia do Norte; que não vi fome declarada; que não vi ninguém a ser executado na rua; que vi bicicletas (outra ideia feita, de que não há bicicletas na rua); e que, apesar de tudo, conheci pessoas extremamente simpáticas e genuinamente boas (e talvez ingenuamente também).

Fechem os olhos. Qual é a primeira imagem da Coreia do Norte que vos vem à cabeça?

a) Kim Jong-un

b) Desfile militar

c) Armas nucleares

d) a pivô da televisão norte-coreana

Eu fecho os meus. E à minha mente vêm imagens como: a Miss Kim encantada com um chapéu de palha; o sorriso de menino de Pak Kwang-ung, enquanto dançava no karaoke de Pyongyang; o canto caloroso das cigarras à entrada de Panmunjon; as duas irmãs de mãos dadas, num passeio de domingo com o avô…

É por isso que é tão difícil escrever sobre a Coreia do Norte. Porque vi (eu vi!) imagens ternurentas e sei que fiz amigos para a vida (embora alguns nunca mais os vá ver) e, ao mesmo tempo, as mesmas imagens podem guardar segredos terríveis. Jamais saberei.

O que sei é que, vítimas do tempo e deste tempo, nós jornalistas habituámo-nos a escolher os caminhos mais fáceis, que pretendem ir ao encontro do imaginário das pessoas, em vez de seguirmos estradas de inclinação acentuada, que clarifiquem (ou mesmo que transformem) mentes menos exercitadas.

Faço um mea culpa. Ninguém é inocente. Mas uns serão condenados enquanto persistirem no erro, outros serão ilibados sempre que tentarem fazer melhor.

Desta vez, o programa de investigação “Panorama da BBC persistiu no erro com a reportagem “Undercover in North Korea”. Os repórteres infiltraram-se numa viagem de estudantes, dizendo que de outra forma, enquanto jornalistas, jamais conseguiriam entrar no país mais fechado do mundo. É a primeira de muitas mentiras. E aquilo que se vê nesta reportagem é apenas a repetição de uma fórmula já gasta.

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[Rita Colaço/Coreia do Norte/2006]

imagem-coreia

Para quem ainda não sabia, a Coreia do Norte tem um calendário próprio, ao ritmo do aniversário do Grande Líder.

Se Kim Il-sung fosse vivo (não sendo é como se fosse) faria hoje 101 anos, mas o calendário marca Juche 102. Kim Il-sung nasceu em 1912 e a partir daí começou o ano 1: Juche 1(Juche é um conceito criado por Kim Il-sung e que significa algo como “a Coreia por ela própria”).

Por isso, o ano de 2013  é para os norte-coreanos o ano de 102.

O dia é especial para (quase) todos os norte-coreaanos, mesmo para aqueles que fugiram do país. Quase todos os dissidentes que tenho entrevistado ao longo dos anos me dizem que Kim Il-sung é visto por todos como um herói. Como o homem que libertou a Coreia do Norte dos japoneses. Como o homem que trouxe prosperidade (até finais da década de 80) para o país. Já Kim Jong-il não reunia a mesma unanimidade e “adoração”.

Daí que o dia 15 de Abril seja, de facto, um dia especial para os norte-coreanos e, neste ano, para o mundo que espera em suspenso por um gesto perigoso de Kim Jong-un.

E porque hoje é dia 15 de Abril, ofereço-vos o remake sonoro da minha viagem à Coreia do Norte em 2006. Um retrato que apenas mostra a versão norte-coreana. Esta é a história tal como me foi contada.

(também podem ouvir aqui, mais ou menos ao minuto 29)

Ainda vos deixo a notícia publicada hoje pela KCNA e que, quanto a mim, traz um tom menos ameaçador e mais reconciliador.

 Pyongyang, April 15 (KCNA) — The dear respected

Kim Jong Un received a letter from the Central Committee of the Anti-Imperialist National Democratic Front (AINDF) on Monday, the birth anniversary of President Kim Il Sung.
The letter said: Thanks to the April 15 when the sun of Juche rose, the Korean nation could put an end to its history of distress interwoven with flunkeyism and national ruin, greet a new bright morning and take the road of eternal happiness and prosperity of the nation with spring sunshine given off from Mangyongdae.
The life of Kim Il Sung was an epic-like one of an invincible hero who clarified the truth that arms are a lifeline of the nation and guarantees the victory of revolution, restored the country by leading to victory the hard-fought battles against the Japanese and the U.S. imperialists under the banner of Songun and honorably defended the sovereignty of the nation.
He brightly indicated the path for national reunification by setting forth just and rational proposals and ways for reunification including the three principles of national reunification, the ten-point programme of the great unity of the whole nation and the proposal for founding the Democratic Federal Republic of Koryo.
The cause of the Songun revolution based on Juche is being successfully carried forward by you Marshal Kim Jong Un, who are identical to Kim Il Sung and leader Kim Jong Il.
In the letter AINDF vowed to glorify the idea of national reunification and leadership feats of Kim Il Sung and Kim Jong Il and vigorously advance for independent reunification, more deeply cherishing in mind the firm belief that Kim Il Sung and Kim Jong Il are always with the Korean people.
It also pledged to join the all-people resistance to frustrate the frantic moves of the hostile forces for a nuclear war and make positive contribution to bringing about a fresh turn in the efforts for national reunification in this significant year which marks the 65th anniversary of the DPRK and the 60th anniversary of the victory of the Korean people in the Fatherland Liberation War in response to the special statement of the government, political parties and organizations of the DPRK.

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Tal como prometi no Facebook, deixo-vos a curta entrevista que tive oportunidade de fazer a Nick Bonner, fundador da Koryo Tours, uma agência que organiza viagens até à Coreia do Norte e que tem sede em Pequim.

Neste momento, a Koryo continua a sua actividade normal, tem um grupo de turistas na Coreia do Norte e está tudo tranquilo, como se percebe na resposta de Nick.

(peço desculpa por estar em inglês, mas o tempo tem sido escasso)

– We heard that chinese agencies in Dandong have suspended tours to North Korea. Is there any strong reason for that? What about Koryo Tours?
We believe that is a position for Chinese agencies running Chinese tourism. We are a British run Hong Kong registered company and are continuing tours as “normal” . We are in regular contact with the British Embassy in Pyongyang who have not put out any travel restrictions and we also base the current situation of taking in tourist on our 20 years experience and the professional standards of our Korean colleagues- what is remarkable is that they do take this situation with a very responsible attitude. We also accompany every tour group with our own western staff who have made numerous visits and have protocols if the situation gets worse.

– Having in mind your large experience travelling to NK, would you say that things are different there by these days? If so, could you give some examples?
Not really- we have a group in Pyongyang at the moment 15 people with US tourist and I rang  the tour leader Dan Levitsky on his mobile and everyone is normal – he said that his guide on the way to the group was more worried about if she had time to drink a cup of coffee before meeting the group than the current situation.

– What’s the importance of tourism for north korean economy?
We take around 2 thousand western tourists a year and that is about 40% of all western tourists- so that impact is minute. At Koryo  Tours we are not just a travel company but also involved in critical cultural engagement from sports trips to film festivals and educations trips. The work we do is one of the few strands of ‘normalisation’ and it impacts both huge numbers of people (with the UK Embassy we had Bend it like Beckham broadcast around the country in 2010) and on a minuscule level just having western people to speak English to is something we think is of value to many Koreans.

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O actual embaixador do Brasil na Coreia do Norte, Roberto Colin, deu uma entrevista por email à Agência Brasil e com ela, uma vez mais, se sublinha o  clima de normalidade que se vive num dos países mais falados dos últimos dias. A entrevista é publicada aqui na íntegra, com os devidos créditos.

Agência Brasil (ABr) – O clima de tensão é presente no dia a dia do povo coreano?
Roberto Colin – O clima em Pyongyang [capital da Coreia do Norte] é de normalidade e nada se percebe de incomum na cidade. Tanto a imprensa escrita quanto a televisão têm dedicado espaço crescente à “construção econômica” .

ABr – O que vem a ser essa chamada “construção econômica”?
Colin – Há mais de uma semana, o jornal do Partido Comunista [norte-coreano], o Rodong Sinmum, dedica a primeira página exclusivamente às importantes decisões tomadas pela sessão plenária do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores, no dia 31 de março, e da reunião da Suprema Assembleia Popular de 1º de abril quando, entre outras decisões, foi escolhido um novo primeiro-ministro, tido como reformista.

ABr – O senhor observou mudanças no comportamento das pessoas nas ruas e dos raros estrangeiros que vivem no país?
Colin – Nada parece ter mudado no comportamento da população local, nem dos poucos estrangeiros que aqui vivem. Naturalmente, a situação na Península Coreana é o principal tema de conversas nos encontros da comunidade.

ABr – Particularmente, como o senhor e sua família estão se preparando para uma eventual guerra envolvendo a Coreia do Norte?
Colin – Estamos em contato constante com nossos amigos no Corpo Diplomático, mas nada mudou em nossa rotina. Meu filho continua indo normalmente à escola coreana para estrangeiros que frequenta. Temos um abrigo subterrâneo na Embaixada do Brasil  e que esperamos não ter de usar. Também temos gerador próprio.

ABr – Autoridades norte-coreanas voltaram a procurar o senhor, depois do comunicado da última semana? O que disseram?
Colin – No domingo, dia 7, as Forças Armadas deram um briefing sobre a situação na Península Coreana, em que voltaram  a responsabilizar a “política hostil” dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte pela crise atual.

ABr – O senhor se comunica com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, ou com  interlocutores dele com frequência, após o alerta do governo norte-coreano?
Colin – Estou em contato permanente com a chefia do Itamaraty desde o agravamento da situação. Para nós, são reconfortantes as  manifestações de solidariedade dos colegas do Itamaraty, a começar pela chefia, como também dos amigos e parentes. Meu funcionário, minha mulher e meu filho mostraram que são pessoas fortes e equilibradas, preparadas para os desafios próprios de nossa profissão.

ABr – Como o senhor faz para driblar a tensão pessoal, do seu funcionário e da sua família?
Colin – Eu vivi momentos de tensão e risco em Moscou, em 1993, com meu único funcionário, o oficial de chancelaria Antônio José dos Santos, também no Congo. Em ambos os casos, o perigo era visível. Aqui a situação é diferente, de incerteza, porque é difícil avaliar o risco que realmente existe. Na embaixada, procuramos seguir a rotina, com a demanda adicional de trabalho que a situação impõe.

ABr – Em caso de uma crise, será possível adotar um plano de evacuação para os brasileiros que estão na Coreia do Norte?
Colin – Os únicos cidadãos brasileiros que vivem na Coreia do Norte hoje são a mulher do embaixador da Palestina e sua filha caçula. Na embaixada, somos minha família [mulher e filho] e um funcionário administrativo. Não existe um plano de evacuação definido, mas em situação de emergência, a embaixada seria evacuada para Dandong, China, na fronteira com a Coreia do Norte, que está a quatro horas daqui por via terrestre.

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Qual é a dimensão da verdade quando a realidade está a 10 mil quilómetros ou apenas a alguns centímetros dos olhos?

Provavelmente, jamais saberemos. Porém, dois turistas acabadinhos de chegar da Coreia do Norte contam aqui as suas impressões.

Um deles, Patrick Thornquist, faz o resumo perfeito da dificuldade que é distinguir aquilo que se vê daquilo que se VÊ.

You try to grasp what is real and what is not. You’re trying to find that balance between what your media tells you and what they’re telling you because they’re very far off.

E mesmo VENDO/OUVINDO nunca teremos a certeza de como as coisas realmente são.

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Lembram-se de Arnaldo Carrilho?

Ele foi o primeiro embaixador do Brasil na Coreia do Norte e deu ontem uma entrevista ao canal online Café na Política.

É um ex-insider que passou três anos na Coreia do Norte e que pode dar uma fotografia mais fiel do país mais isolado do mundo.

Arnaldo Carrilho considera que o Brasil pode ser um importante desbloqueador da tensão que se vive nesta geografia asiática, no contexto do bloco alternativo às grandes potências formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS).

É uma entrevista muito interessante. Vale mesmo a pena ver.

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É a primeira vez que publico  a entrevista que fiz a este ex-soldado norte-coreano, em Agosto de 2006.

Publico-a em forma de diário.

Hoje, Young Jin Han vive na Coreia do Sul e é repórter do Daily NK. Lembrei-me dele, novamente, porque li isto e mais isto.

Sou Young Jin Han. Tenho 35 anos. Fugi da Coreia do Norte em Junho de 2000 e durante três anos vivi no nordeste da China, até que em Agosto de 2003 consegui entrar na Coreia do Sul.
 
Eu passava fome na Coreia do Norte e acima de tudo não tinha liberdade.
 
Eu sempre sonhei com a liberdade.
 
Estudei na universidade, entre 1987 a 1991 e depois servi no exército.
 
Na Coreia do norte, quem não trabalha para o Estado, nem vale a pena ir trabalhar para outro lado porque não recebe dinheiro. Num sistema socialista, o Estado dá dinheiro aos trabalhadores, mas agora, como a Coreia do Norte não tem dinheiro, os trabalhadores não recebem nada. Por isso, quando as pessoas trabalham não recebem nada. Se precisarem de alguma coisa vão aos mercados locais vender o que têm e trocam produtos.
 
Enquanto soldado do exército, recebia um salário mensal entre os cinco e os 10 mil wons. Com cinco mil wons conseguia comprar cinco quilos de arroz e com dois mil comprava uma pequena porção de carne de porco. São cerca de dois a três dólares por mês.
 
Como as pessoas recebem pouco, não querem trabalhar. Mas a polícia obriga-as. Por isso, as pessoas vão para o trabalho, mas não trabalham porque o governo não lhes dá dinheiro. Em vez de trabalharem, saem e tentam encontrar outras coisas fora do trabalho. Vendem qualquer coisa, no mercado paralelo.
 
Até aos anos 80, do século XX, tínhamos saúde, educação e alimentos básicos de graça. O sistema até ia bem, mas depois da morte de Kim Il-Sung, em 1994, o sistema faliu.
 
Houve uma crise de fome. Não havia qualquer apoio. Até ao ano passado [2005] nem suplemento de arroz era providenciado. Esta crise durou quase 10 anos. O Estado começou outra vez a dar em Outubro do ano passado, mas em pequenas porções. Só que isso acabou outra vez este ano [2006]. Desde Março que só os soldados recebem arroz. As outras pessoas têm que se arranjar por si.
 
Qualquer jovem norte-coreano serve no exército durante 10 a 13 anos. Desde os 17  até aos 30 anos. Durante esse tempo recebem treino militar, mas também fazem trabalhos de construção civil. Constroem estradas, edifícios…Trabalham como soldados e como operários de construção civil.
 
Desde a crise da fome, muitos soldados sofrem de má nutrição, mesmo estando no exército, por isso são mandados de volta para casa  porque não servem para o exército. Alguns roubam as aldeias mais próximas porque têm fome e claro que são castigados. Isto é o que se passa no exército regular. As tropas especiais, as que estão no paralelo 38, na DMZ [Zona Desmilitarizada], são bem nutridos, não sofrem de má nutrição.
 
O sistema educativo é bom, é gratuito, e os estudantes das universidades até recebem bolsas. Não têm de pagar, mas o dinheiro é pouco e os jovens estudantes são obrigados a trabalhar no campo nas férias. Trabalham para terem educação e têm que dar algumas coisas.
 
Por exemplo, quem quer estudar tem de criar coelhos e dar à escola pelo menos 10 peles de coelho para que a escola consiga vender essas peles e encaixar algum dinheiro. O governo não dá muito dinheiro às escolas.
Na verdade, a escola não é totalmente gratuita porque os estudantes são obrigados a trabalhar. A escola vende essas peles a outros países para conseguir obter moeda estrangeira, esse dinheiro vai depois para o governo, que depois reenvia uma pequena parte à escola.
 
A saúde também é gratuita. Os médicos tratam os pacientes de graça, mas cada doente deve comprar os seus próprios medicamentos. E as pessoas não têm dinheiro.
Todos os médicos na Coreia do Norte trabalham para o Estado e todos os hospitais são estatais. Eles recebem um ordenado muito pequeno do governo, por isso têm de fazer dinheiro extra, indo também ao mercado vender qualquer coisa ou receber dinheiro extra dos pacientes.
 
Todos os norte-coreanos estão organizados.
 
Todos são obrigados a estar numa organização, num sindicato de trabalhadores, ou de estudantes. E cada organização controla e regula os seus membros. Uma vez por semana, cada membro dessa organização tem que criticar uma outra pessoa qualquer por algum motivo. Com este tipo de organização, o governo consegue controlar as pessoas. Para além disso, o governo faz execuções públicas para amedrontar os norte-coreanos e controlá-los.
 
Vejo Kim Il-sung e Kim Jong-il de formas diferentes. Não tenho maus sentimentos para com Kim Il-sung porque ele lutou pela nossa independência durante o período da ocupação japonesa. A economia esteve bem enquanto ele esteve no poder. Depois da chegada de Kim Jong-il ao poder, começaram as políticas do medo e da força militar. O exército e a polícia começaram a controlar todos os aspectos da vida e a fome apareceu.
 
Eu odeio Kim Jong-il.  Eu não odeio Kim Il-sung.
 
Antigamente, aqui na Coreia do Sul, quando o número de refugiados era pequeno, o governo conseguia dar trabalho a todos, agora há tantos refugiados que o sistema de apoio não chega a todos e só 10% dos refugiados  têm trabalho. Este é o grande problema dos refugiados norte-coreanos aqui, agora.
 
Outro grande problema é que os refugiados mantêm o pensamento, as tradições e o estilo de vida norte-coreanos, por isso não conseguem conviver bem com os sul-coreanos. Quem se transforma para parecer mais um sul-coreano arranja trabalho mais facilmente.
 
Hoje sou repórter do Daily NK.
Estou na casa dos trinta.
 
Deixei os meus pais, irmãos e sobrinhos na Coreia do Norte. A maior parte dos refugiados norte-coreanos que vivem aqui [Coreia do Sul] ou na China deixou a família na Coreia do Norte.
 
Até meados dos anos 90, o governo norte-coreano castigava os familiares dos dissidentes, que também eram vistos como traidores, mas agora há cada vez mais dissidentes, por isso não conseguem castigar todas as pessoas. Por isso deixam as famílias viverem por si, mas só os vigiam.
 
Nunca mais vi ou falei com a minha família.
 
Gostava de voltar à Coreia do Norte, mas só depois da reunificação.
Gostava de voltar à minha cidade-natal e reconstruí-la.

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Chama-se Felix Abt, é suíço, tem 61 anos e direito a uma página na wikipédia, graças às relações privilegiadas no meio empresarial norte-coreano.

Felix viveu e trabalhou na Coreia do Norte entre 2002 e 2009 e ajudou a fundar a Pyongyang Business School. No ano passado, escreveu também o livro “A capitalist in North korea”.

Já foi entrevistado pelos principais órgãos de comunicação internacionais e agora surge mais esta entrevista na Minyanville, uma publicação online sobre assuntos económicos.

Felix conta como a sua conta no Linkedin foi bloqueada depois de ter associado um email norte-coreano ao seu percurso profissional. E é política habitual da empresa. Desta e de outras norte-americanas como a Google, Yahoo, Microsoft, Oracle, etc. Restringem o acesso a países e de países que estão na lista negra do Departamento do Tesouro norte-americano.

O mais interessante da entrevista está quase no fim. Felix diz que há uma classe média a emergir nas principais cidades norte-coreanas, que muitas pessoas estão envolvidas nalgum tipo de negócio e que, no ano passado, os agricultores de quintas estatais receberam a promessa de que poderão vender no mercado livre cerca de 30 por cento daquilo que produzirem. Garante que a abertura do governo para o comércio e para as parcerias internacionais tem aumentado nos últimos 10 anos, porém, os cortes (ainda) frequentes de energia, as estruturas deficitárias e, claro, as sanções internacionais ainda dificultam muito a acção de quem está disposto a investir no país mais fechado do mundo.

Se Abt gostaria de regressar à Coreia do Norte? Claro, “para apreciar boa comida” e estar com os amigos, mas sublinha que está feliz onde se encontra agora (Vietname). “Sete anos é muito tempo”.

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Nas últimas duas semanas, assisti ao ciclo de conferências “A emergência da Coreia do Sul”, pelo investigador Luis Mah,  no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa.

Entrevistei Luis Mah, ontem, ao final do dia, pouco depois de serem conhecidos os resultados das eleições sul-coreanas. É uma breve análise ao futuro de uma das maiores potências económicas do mundo, que pode ouvir na íntegra aqui, basta carregar no player que se segue:

luis mah

Investigador no Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CESA) no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em Lisboa.

É também professor auxiliar convidado no Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e co-autor do blogue “O retorno da Ásia“.

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Kim Han Sol. Um neto de Kim Jong-il que nunca conheceu o avô. Sobrinho do actual líder. Foi entrevistado por Elisabeth Rehn, antiga ministra finlandesa da Defesa, no United World College, na Bosnia, onde estuda.

Kim Han Sol vive com uma líbia, apoiante da revolução de Trípoli que fez cair Kadafi.

Era de um destes Kim que a Coreia do Norte precisava.

[Parte I – atenção, a introdução está em finlandês, mas a entrevista é em inglês]

[Parte II]

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[Foto: Matt Douma/LOS ANGELES TIMES]

Mais um relato da vida luxuosa de Kim Jong-il por um antigo guarda-costas.

Lee Young-guk trabalhou 10 anos para o líder norte-coreano. Até 1988. Ao longo do tempo, sempre sem sair de Pyongyang e do círculo fechadíssimo de Kim Jong-il, Lee também tinha direito a alimentos importados como tangerinas, bananas, abacaxis, carne de urso e de tartaruga. E achava que todos viviam assim na Coreia do Norte.

Um dia, o primo conseguiu um trabalho como motorista da família Kim e Lee decidiu abandonar o seu posto de guarda-costas, já que as regras dizem que não pode haver mais do que um membro da mesma família a trabalhar para Kim Jong-il.

Lee apanhou um comboio para a terra-berço – que ficava junto da fronteira com a China – e testemunhou um país miserável. Vista da janela do comboio, aquela não era a mesma Coreia do Norte que Lee via da janela do palácio de Kim Jong-il.

Desertou para a Coreia do Sul em 2000.

“The whole country was miserable. On the train there was vinyl instead of glass on the window, even though it was in the middle of winter,” he wrote in his 2002 memoir, “I Was a Bodyguard for Kim Jong Il.”

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Apesar das conversações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul não terem corrido bem – como se suspeitava, pela exigência de um mea culpa em ataques que os norte-coreanos sempre negaram -, o embaixador português na Península Coreana, Henrique Silveira Borges, garantiu à Agência Lusa que  “o clima, que estava muitíssimo tenso, melhorou significativamente”.

Apesar disso, a Coreia do Norte parece querer continuar a desenvolver o seu programa nuclear e balístico. Tim Brown trabalha para a Globalsecurity e analisou imagens recentes de satélite que parecem indicar a conclusão de uma segunda rampa de lançamento de mísseis. Entrevistado pela agência Reuters, Brown diz que a Coreia do norte está a trabalhar em conjunto com o Irão e com o Paquistão e que esta instalação é mais sofisticada do que a anterior.

O chefe dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, James Clapper, já afirmou que “as armas nucleares e os mísseis balísticos da Coreia do Norte constituem uma séria ameaça para os Estados Unidos“.

A China continua impávida e serena. Apoia a sucessão de Kim Jong Il e reforça as relações sino-norte-coreanas, mas esquece-se de cumprir a convenção de Genebra que assinou em 1951 e que deveria proteger os refugiados norte-coreanos.

Em nome de uma rota comercial barata – e que por isso deve continuar pacífica – também todos os países ditos desenvolvidos se “esquecem” de chamar o governo chinês à razão.

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Da Coreia do Sul

O embaixador de Portugal na Coreia do Sul, Henrique Silveira Borges, foi esta manhã entrevistado pelo jornalista Luís Nascimento, da Antena 1.

Henrique Silveira Borges reconhece que, apesar da tensão, os sul-coreanos não reagem de forma dramática a notícias de um possível ataque  norte-coreano porque, de alguma forma, já se habituaram ao tom de ameaça.

O embaixador português em Seul diz, no entanto, que é preciso não subestimar a actual situação, até porque é a primeira vez que há vítimas civis, desde o fim da Guerra da Coreia em 1953.

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O Ponto Final, jornal diário em português publicado em Macau, entrevistou-me a propósito da Coreia do Norte e deste blogue que está quase a fazer quatro anos de vida. Agradeço ao jornalista Hélder Beja pelo interesse e pelo destaque!

(para ler a entrevista, basta clicar em cima da imagem)

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Regresso ao relatório da Amnistia Internacional (AI) porque está semeada a polémica.

Relembrando: a AI entrevistou cerca de 40 dissidentes da Coreia do Norte e chegou à conclusão de que “o sistema de saúde está em ruínas”.

Grandes cirurgias, incluindo amputações, são feitas sem anestesia, as seringas não são esterilizadas e os lençóis não são lavados frequentemente. É esta a realidade de muitos hospitais da Coreia do Norte, de acordo com um relatório da Amnistia Internacional. O quadro traçado do sistema de saúde norte-coreano dificilmente poderia ser mais negro.

O porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Paul Garwood, considera que o documento é “anecdotal”  porque os testemunhos reportam-se a 2001. Os artigos publicados na Web portuguesa acabaram por traduzir esse “anecdotal” como “anedota”. Na verdade, “anecdotal” aqui quer dizer “duvidoso”. Eu própria, na pressa de publicar a notícia, caí no mesmo erro. Graças a leitores atentos – como o Pedro (obrigada!) – fica aqui a correcção e, já agora, a lição de como uma palavra mal-entendida por originar mal-entendidos. Neste caso, apesar deste “lost in translation”, a palavra não retira o tom de descredibilização do porta-voz da OMS em relação ao relatório da Amnistia:

Garwood said Thursday’s report by Amnesty was mainly anecdotal, with stories dating back to 2001, and not up to the U.N. agency’s scientific approach to evaluating health care. “All the facts are from people who aren’t in the country,” Garwood told reporters in Geneva. “There’s no science in the research.” The issue is sensitive for WHO because its director-general, Margaret Chan, praised the communist country after a visit in April and described its health care as the “envy” of most developing nations.

No relatório original, a AI diz que recolheu testemunhos de norte-coreanos que fugiram do país, a maior parte, entre 2004 e 2009.

Questão para discussão: o facto destas pessoas já não se encontrarem na Coreia do Norte retira validade aos seus testemunhos?

“North Korea has failed to provide for the most basic health and survival needs of its people.  This is especially true of those who are too poor to pay for medical care,” said Catherine Baber, Amnesty International’s Deputy Director for the Asia-Pacific. According to the World Health Organization’s last available figures, North Korea spent less on healthcare than any other country in the world – under US$1 per person per year in total. The North Korean government still claims that its healthcare system is free for all, but many witnesses told Amnesty International that they have had to pay for all services since the 1990s, with doctors usually paid in cigarettes, alcohol or food for the most basic consults, and taking cash for tests or surgery.

A  directora-geral da OMS, Margareth Chan, visitou o país ainda este ano e  disse que o sistema de saúde norte-coreano faz inveja a muitos sistemas de saúde de países desenvolvidos. Fui recuperar essas declarações:

UN health agency chief Margaret Chan said on Friday after a visit to North Korea that the country’s health system would be the envy for most developing countries although it faced “challenges”. “Based on what I have seen, I can tell you they have something that most other developing countries would envy,” she told journalists, despite reports of renewed famine in parts of the country. “To give you a couple of examples, DPRK has no lack of doctors and nurses, as we see in other developing countries, most of their doctors and nurse have migrated,” the director general of the World Health Organisation said. She also highlighted its “very elaborate health infrastructure” extending to a district network of household doctors, she added.

Margaret Chan baseou ainda os seus elogios nas estatísticas norte-coreanas e esteve apenas três dias na Coreia do Norte.

O sistema de saúde norte-coreano terá melhorado assim tanto, desde que os dissidentes ouvidos pela AI fugiram, a ponto de ser agora um dos melhores do mundo?

Quem pode afirmar que aquilo que Margaret Chan viu – em apenas três dias – é um retrato fiel da realidade norte-coreana? E quem pode afirmar que não é?

Espero reacções.

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O encontro entre o Comando da ONU e a Coreia do Norte aconteceu, finalmente, esta quinta-feira, em Panmunjon. As partes prometeram voltar ao diálogo.

Pode não parecer, mas esta decisão já significa um grande avanço, ainda para mais porque os representantes militares do Comando das Nações Unidas são norte-americanos.

Enquanto isso, os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão a planear uma série de exercícios militares conjuntos, para aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte. Na próxima semana, os secretários norte-americanos da Defesa e de Estado, Robert Gates e Hillary Clinton, vão até Seul discutir os detalhes da operação.

Ora, e não vá a diplomacia tecê-las, nestas coisas de Estados  tecnicamente em guerra (como é o caso das Coreias), o melhor é ter preparação militar desde bem cedinho. Na Coreia do Sul, há acampamentos militares de três dias que fortalecem o corpo e o espírito dos mais jovens.

[Foto: Associated Press]

Por outro lado, o sistema de saúde da Coreia do Norte está como as crianças desta foto: na lama. A Amnistia Internacional entrevistou mais de 40 dissidentes norte-coreanos e concluiu, num relatório, que a saúde está “em ruínas”.

Infelizmente, nada de novo e diferente daquilo que o médico alemão, Norbert Vollertsen, me contou em 2006, na Coreia do Sul.

Em 1999, Norbert ofereceu-se para prestar assistência médica na Coreia do Norte e lá viveu durante 18 meses. Deixo-vos parte do relato impressionante de Norbert:

Em frente a qualquer hospital há uma farmácia, mas se as pessoas não tiverem won, a moeda local, não podem comprar esses medicamentos. Às vezes, são obrigados a pagar em moeda estrangeira, euros ou dólares. Isso significa que só os membros da elite do Partido dos Trabalhadores conseguem tratamento. Por isso, é bastante irónico que digam na Coreia do Norte que a saúde é de graça.

Um dia, num hospital de uma zona rural, deparei-me com condições impensáveis. Não tinham desinfectante, nem sabão, nem medicamentos, nem comida sequer para alimentar os médicos. Por isso eles também estavam fracos. Mas estavam a operar. Apesar de todas estas falhas, estavam a operar uma miúda de 13 anos a uma apendicite. Não queria acreditar naquilo que estava a ver. No meio daquelas condições, sem qualquer higiene, sem sabão ou água corrente, estavam a operar! Perguntei-me: «o que é que se passa aqui?» Eu e os meus colegas estávamos a olhar para aquilo e ficámos sem palavras. Ali estava aquela miúda, deitada na marquesa, semi-nua e sem qualquer anestesia, ou droga. Nunca vi nada assim. E ela, claro, estava muito consciente. Tremia e chorava silenciosamente. Sentimo-nos tão impotentes. Senti que estava na Lua ou em Marte, porque era um cenário tão invulgar. Parecia um filme. Agarrei-lhe numa das mãos e o meu colega agarrou-lhe na outra. A única coisa que pudemos oferecer  foi a nossa mão ocidental. Ela devia estar a sofrer tanto…E a operação continuava. Como era o nosso primeiro contacto com a Coreia do Norte, e era apenas uma visita, não tínhamos trazido medicamentos. O que é que podíamos fazer? Confiámos nos médicos, porque a operação era necessária. E, no final, até me mostraram o apêndice que estava bastante infectado. Sei que até na selva se operam apendicites, mas utiliza-se whisky barato para deixar os doentes um pouco trôpegos, anestesiados. Mas esta miúda estava muito consciente, não estava a dormir, não estava bêbada. Eu e o meu colega até chorámos, sentimo-nos embaraçados porque éramos médicos e não podíamos fazer nada, não podíamos parar o processo. Surpreendentemente, sobreviveu. Uma semana depois, vimo-la outra vez, porque estávamos tão preocupados que fomos até lá e vi uma jovem norte-coreana muito forte. A maior parte das mulheres norte-coreanas são muito corajosas e rijas. Ela sorria, estava acordada e saudável.

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A Associated Press (AP) fez uma peça sobre a forma como os norte-coreanos acompanharam o jogo dos 7-0.

A AP divulgou ainda imagens do treino dos jogadores norte-coreanos, na ressaca da derrota. É um vídeo que, para já, ainda não tem tradução.

Da Rússia, o jornalista José Milhazes traz-nos “reflexões tristes sobre a relação entre ditaduras e futebol”.

Na Coreia do Sul, o governo diz que detectou níveis anormais de radiação no paralelo 38.

A partir de Pyongyang, o embaixador brasileiro Arnaldo Carrilho deu uma entrevista à Reuters onde garante que o governo de Brasília quer estimular o diálogo entre a Coreia do Norte e o resto do mundo.

E Bush, o inimigo número 1 da Coreia do Norte saiu da reforma para dar um puxão de orelhas e Kim Jong-il.

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É hoje que a experiente selecção brasileira e a – quase verde – selecção norte-coreana se encontram em Joanesburgo para o primeiro teste de ambas as equipas neste Mundial de Futebol 2010.

Enquanto o jogo não começa, a equipa norte-coreana tem treinado num ginásio público de Joanesburgo. Embora discorde do tom jocoso deste vídeo, resolvi publicá-lo para que se perceba melhor que esta selecção, apesar de ter poucos recursos financeiros, pode surpreender. Mais uma vez.

Mas também leio na Globo que o “time titular do Brasil pra estreia nunca atuou junto num jogo oficial“. Por isso, é melhor não cair em excesso de confiança. É que os norte-coreanos têm um sentimento de união muito grande.

Os brasileiros, os portugueses e o resto do mundo é que conhecem mal a Coreia do Norte e há sempre muitas ideias feitas sobre aquilo que não se conhece. Ora ouçam – neste vídeo – as impressões que a Rádio Web Nassau recolheu nas ruas brasileiras.

A poucas horas do jogo, a FIFA está a trabalhar para que a população da Coreia do Norte assista ao jogo. Ao mesmo tempo, enquanto uns apelam à abertura, outros trabalham às escondidas. Dunga parece apostado em seguir a máxima: o segredo é a alma do negócio. Mas o “Rooney asiático” – o jogador norte-coreano Jong Tae-se – é que abre o jogo todo. Diz ele que a equipa da Coreia do Norte é parecida com a Alemanha.

Numa página de apostas, o Brasil é dado como favorito e até se fala em mais uma goleada. Eu que não percebo nada de futebol, achei muita piada a este texto:

No lado coreano, apenas mistério. Como disseram aqui no Brasil, se mistério ganhasse jogo, Gilberto Braga seria técnico da Seleção (referindo-se ao novelista Gilberto Braga, autor de novelas como Vale Tudo, culminada pelo mistério Quem matou Odete Roitmann). Nos jogos esse ano, derrotas para Nigéria e Paraguai, empate com a Grécia (que apresentou um futebol paupérimo em sua estreia) e um empate com a “potência” Turcomenistão. Se no Brasil, a maioria dos jogadores joga na Europa, a Coreia do Norte possui apenas 3 jogando fora do país : mesmo assim na China, Rússia e no Japão. Nenhum na Europa.

Pode ser patriotada, mas depois dos 4 X 0 da Alemanha teremos outra goleada nessa primeira rodada.

O Bola nas Costas é que resolveu fazer uma animação em vídeo sobre o embate desta terça-feira.

Para finalizar, deixo aqui um documentário sobre a Coreia do Norte com assinatura brasileira. Mais logo, que vença o melhor!

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[Foto: BBC4]

Uns dizem – muito mais uns do que outros – que o governo de Pyongyang só vai transmitir os jogos do Mundial que derem vitória à Coreia do Norte.

Mas há outros que garantem que as vitórias e as derrotas vão ser transmitidas. No entanto, como a Coreia do Norte não paga os direitos de transmissão – e por via dos fusos horários – os jogos só vão ser transmitidos  um dia depois. 

A garantia foi dada ao Copa do Mundo, que falou com Nick Bonner, produtor do documentário “The Game of their Lives”, e dono de uma das poucas agências de turismo autorizadas a organizar excursões para a Coreia do Norte. Nick pode ter algum interesse em proteger a imagem da Coreia do Norte, mas é também um dos “outros” e poucos ocidentais a conhecer bem o país de Kim Jong-il.

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A reboque do Mundial de 2010, o Maisfutebol está a publicar uma série de retratos sobre a Coreia do Norte.

Interessante, a entrevista a Leonid Petrov, professor de Estudos Coreanos na Universidade de Sidney (Austrália).

Leonid também tem blogue.

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Esta semana, tive o prazer de conhecer o professor sul-coreano Byung Goo Kang que está em Portugal há 25 anos.

Kang é professor de coreano na Universidade Nova de Lisboa e assessor na Embaixada da Coreia do Sul em Lisboa. Pedi-lhe uma entrevista, porque tenho falado pouco neste blogue sobre a comunidade coreana em Portugal. É uma conversa que “Coreia do Norte: um segredo de Estado” publica em primeira mão para os seus leitores. Um presente, portanto!

Kang fala das suas paixões, da sua formação, dos primeiros coreanos que abraçaram Portugal, dos encontros na História e da Reunificação das Coreias que tarda em chegar.

Professor Kang 2

O que é que o fez vir da Península Coreana para a Península Ibérica e, concretamente, para Portugal?

Porque quando estava a acabar a escola secundária, um dos meus professores disse para escolher o curso de Estudos Portugueses, porque teria futuro daí a 10 ou 15 anos. Nessa altura, estava na moda o curso em Estudos Árabes porque havia muitas empresas sul-coreanas no Médio Oriente, na área da construção civil. Mas esse tal professor viu mais longe e recomendou a licenciatura em Estudos Portugueses e foi o que escolhi. Ele estava a pensar mais no Brasil, quando fez essa recomendação, mas ao longo da minha licenciatura fui ficando cada vez mais interessado na História de Portugal, sobretudo nos Descobrimentos porque a minha paixão sempre foi a História Universal. Ora, sendo Portugal o país pioneiro dos Descobrimentos, quis vir para cá aprofundar os meus conhecimentos. Um pouco antes de acabar a licenciatura, candidatei-me a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbekian e lá vim para Portugal. Comecei mais por estudar a língua e a cultura portuguesas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, durante um ano e meio e, depois, entrei no curso de Mestrado em História dos Descobrimentos e a Expansão Portuguesa, na Universidade Nova de Lisboa.

Já está em Portugal há 25 anos. Que diferenças e semelhanças tem encontrado entre o povo coreano e o povo português, sendo que partilhamos a mesma latitude (Paralelo 38)?

O clima é mais ou menos igual, por isso adaptei-me com facilidade. Na altura, também achei que a mentalidade do povo português era muito aceitável para um coreano, que é um pouco conservador. Depois, como cresci no campo, foi muito fácil adaptar-me porque Lisboa, mesmo sendo a capital de Portugal, não tinha nada a ver com a confusão de Seul. As pessoas eram simpáticas, não eram egoístas ou individualistas, que é uma característica do mundo ocidental. A dona da casa onde vivi os meus primeiros 10 meses e meio era muito simpática e apaixonei-me logo por Portugal.

E teve muitas saudades do kimchi?

Sim, é verdade. No entanto, a princípio nem me importei muito com isso porque o meu objectivo era ficar cá pouco tempo, até acabar o mestrado e o doutoramento e depois voltar à Coreia para dar aulas na universidade em Seul. Nesse sentido, só pensava em adaptar-me rapidamente, inclusive à culinária portuguesa, tentando esquecer-me da culinária coreana. Comecei a gostar do cozido à portuguesa, da dobrada, etc. No caso do bacalhau, foi muito difícil porque era um prato muito salgado e não conseguia comer. Mas tentei, tentei e agora gosto de todos os pratos portugueses!

(quero ler a entrevista completa)

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O que é que o fez vir da Península Coreana para a Península Ibérica e, concretamente, para Portugal?

Porque quando estava a acabar a escola secundária, um dos meus professores disse para escolher o curso de Estudos Portugueses, porque teria futuro daí a 10 ou 15 anos. Nessa altura, estava na moda o curso em Estudos Árabes porque havia muitas empresas sul-coreanas no Médio Oriente, na área da construção civil. Mas esse tal professor viu mais longe e recomendou a licenciatura em Estudos Portugueses e foi o que escolhi. Ele estava a pensar mais no Brasil, quando fez essa recomendação, mas ao longo da minha licenciatura fui ficando cada vez mais interessado na História de Portugal, sobretudo nos Descobrimentos porque a minha paixão sempre foi a História Universal. Ora, sendo Portugal o país pioneiro dos Descobrimentos, quis vir para cá aprofundar os meus conhecimentos. Um pouco antes de acabar a licenciatura, candidatei-me a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbekian e lá vim para Portugal. Comecei mais por estudar a língua e a cultura portuguesas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, durante um ano e meio e, depois, entrei no curso de Mestrado em História dos Descobrimentos e a Expansão Portuguesa, na Universidade Nova de Lisboa.

Já está em Portugal há 25 anos. Que diferenças e semelhanças tem encontrado entre o povo coreano e o povo português, sendo que partilhamos a mesma latitude (Paralelo 38)?

O clima é mais ou menos igual, por isso adaptei-me com facilidade. Na altura, também achei que a mentalidade do povo português era muito aceitável para um coreano, que é um pouco conservador. Depois, como cresci no campo, foi muito fácil adaptar-me porque Lisboa, mesmo sendo a capital de Portugal, não tinha nada a ver com a confusão de Seul. As pessoas eram simpáticas, não eram egoístas ou individualistas, que é uma característica do mundo ocidental. A dona da casa onde vivi os meus primeiros 10 meses e meio era muito simpática e apaixonei-me logo por Portugal.

E teve muitas saudades do kimchi?

Sim, é verdade. No entanto, a princípio nem me importei muito com isso porque o meu objectivo era ficar cá pouco tempo, até acabar o mestrado e o doutoramento e depois voltar à Coreia para dar aulas na universidade em Seul. Nesse sentido, só pensava em adaptar-me rapidamente, inclusive à culinária portuguesa, tentando esquecer-me da culinária coreana. Comecei a gostar do cozido à portuguesa, da dobrada, etc. No caso do bacalhau, foi muito difícil porque era um prato muito salgado e não conseguia comer. Mas tentei, tentei e agora gosto de todos os pratos portugueses!

E eu de todos os pratos coreanos! Mas porque ficou até hoje? Alguma paixão?

É verdade. Primeiro, o meu estudo demorou mais tempo do que o previsto e, além disso, comecei a gostar de viver em Portugal. Aqui é possível ter tempo de lazer e também arranjei muitos amigos. Depois, sobretudo, encontrei a mulher ideal, que é portuguesa. Infelizmente, ainda não tivemos filhos mas somos muito felizes. Tive a sorte de encontrar uma senhora muito simpática que me ama muito.

Actualmente, que funções ocupa?

Neste momento, continuo a dar aulas de Língua e Cultura Coreana na Universidade Nova de Lisboa. Começou como um curso livre para os alunos externos, em 1988, e hoje ainda é assim. Portanto, já dou aulas há 21 anos. Também é uma disciplina de opção para os alunos internos. Quando esse curso abriu em 1988, apareceram muitos alunos porque foi o ano dos Jogos Olímpicos de Seul, então os portugueses começaram a demonstrar mais interesse pela Coreia. Em 1988, o curso abriu com 15 alunos o que foi muito bom.

E há cada vez mais alunos nesse curso?

Não propriamente, porque depois dos Jogos Olímpicos de 1988 e do Mundial de Futebol da Coreia e Japão, em 2002, o número de alunos diminuiu bastante. Por exemplo, no ano lectivo de 2008/2009, tive só três alunos. Dois no nível básico e um no nível avançado.

Aquilo que sinto é que parece existir pouca divulgação da Coreia em Portugal? A que se deve isso?

É verdade. Acho que há vários factores que contribuem para isso. Há falta de envolvimento de várias entidades. A própria embaixada cá também não tem muitas actividades, embora acho que isso esteja a mudar. Antes de entrar para a embaixada como assessor cultural, em 2003, havia poucas actividades culturais, por isso recebi esse convite que aceitei e que acumulo com as aulas na Universidade Nova de Lisboa. O objectivo é estimular o intercâmbio cultural entre os dois países, para além da economia e da política. Neste momento, estamos a fazer mais trabalhos. De qualquer maneira, ainda é pouco. Por exemplo, com o pouco orçamento que tinha, Portugal conseguiu criar e gerir um instituto cultural português em Seul, junto à embaixada. Cá em Portugal não há nenhum centro cultural coreano, o que é pouco compreensível.

E essa iniciativa deveria partir de quem?

Claro que devia ser o governo sul-coreano a decidir, mas as empresas privadas também podiam apoiar. Por exemplo, temos cá a Samsung Electrónica, a LG Electrónica e a Halla, que é uma fábrica de produção de componentes de ar condicionado automóvel. Essas empresas também podiam dar uma ajuda na divulgação da cultura coreana em Portugal.

Acho que Portugal é menos conhecido na Coreia, mas isso também tem que ver com o tamanho da embaixada portuguesa em Seul, que tem menos diplomatas do que aqueles que temos cá. Mesmo assim, a embaixada portuguesa está a fazer um bom trabalho em Seul, organizando seminários, exposições e, de vez em quando, concertos de fado. Acho que isso é muito bom.

Falta ouvir por cá o gayageum (instrumento de cordas tradicional da Coreia)…

Exactamente! Por acaso, o actual embaixador – o Sr. Kang – está a pensar trazer o gayageum cá, no Dia Nacional da Coreia, a 2 de Outubro. Só que ainda não tem a certeza se vem cá alguém tocar ou não.

Qual é a dimensão da comunidade coreana em Portugal?

É quase uma comunidade simbólica, tendo em conta a população coreana. São cerca de 150 coreanos. Na sua maioria, são trabalhadores enviados pelas empresas sul-coreanas que estão representadas em Portugal e que, normalmente, regressam à Coreia passados três ou quatro anos. Apenas 50 pessoas são imigrantes coreanos a residir, de modo permanente, em Portugal.

E onde é que eles estão?

A maior parte vive aqui na zona de Lisboa, mas também há duas famílias nos Açores e uma família no Caramulo.

Essa família do Caramulo tem uma história muito engraçada…porque o Sr. Won foi um dos primeiros coreanos a vir para Portugal.

É isso mesmo. O senhor Won veio em 1972 para trabalhar como sexador de pintos. Um sexador é alguém especialista em distinguir o sexo dos pintos, o macho da fêmea. Se misturarem esses dois sexos, os pintos crescem muito lentamente. Se forem separados, crescem mais rápido. Com esse objectivo, os europeus convidavam os sexadores asiáticos, porque essa especialidade nasceu no Japão e depois os coreanos apreenderam-na rapidamente. O senhor Won foi, então, convidado por Portugal para trabalhar aqui como sexador e por cá ficou, casando-se com uma senhora portuguesa. Por acaso, o senhor Won é como o meu padrinho. Ele é que ofereceu a aliança de casamento a mim e à minha mulher.

Falou do primeiro coreano a fixar-se em Portugal…recuando na História, quando é que os coreanos e os portugueses se encontram pela primeira vez?

Os portugueses começaram a ir ao Oriente com Vasco da Gama, mas foi com Jorge Álvares que foram ao Extremo Oriente. Álvares começou a fazer negócios no mar da China e, a partir daí, muitos comerciantes portugueses sedeados em Goa desenvolveram essa actividade na Ásia. Em 1543, chegou um navio ao Japão, que marca o início das relações comerciais com Portugal. Anualmente, os portugueses enviavam um grande barco via Macau. De Goa para Macau e de Macau para Nagasaki, no Japão. Certa vez, um desses navios naufragou e chegou à costa coreana, à ilha de Jeju, em 1577. Esse é o ano que marca o primeiro contacto entre o povo português e o povo coreano. A narrativa dessa altura diz-nos que esse encontro foi muito infeliz para ambos os povos, porque a Coreia tinha a política de proibir a entrada de estrangeiros no seu território. Esse encontro teve um fim muito trágico porque os habitantes da ilha de Jeju mataram cinco tripulantes que chegaram a terra para arranjarem água e comida; e queimaram-lhes um pequeno barco que fazia parte do barco maior que estava ancorado no meio do mar. Ora, esses portugueses que estavam no barco maior, viram aquela matança e conseguiram fugir para Nagasaki, no Japão. Uma vez aí, falaram com os missionários jesuítas e um dos jesuítas italiano escreveu esse relatório para Goa e para Roma.

A História deve, certamente, guardar mais encontros entre Portugal e a Coreia. Queria centrar-me, agora, no presente. Ultimamente, a Coreia do Norte parece estar a dar sinais de mudança ou, pelo menos, de diálogo. Parece-lhe que há uma janela de oportunidade para a reunificação da Península?

Em poucas palavras, e a meu ver, o regime norte-coreano é de pouca confiança. Desde que as conversações entre as Coreias começaram em 1972 – já lá vão 37 anos – houve sempre avanços e recuos, mas esses avanços nunca aconteceram sem uma troca, sem exigências por parte da Coreia do Norte. Querem sempre alguma coisa para abrirem um pouco, depois recebem e fecham outra vez. Por isso, essa delegação norte-coreana que foi apresentar as condolências ao falecido presidente Kim Dae-jung também pode ser encarada de duas maneiras. Por um lado, é verdade que eles também respeitavam muito o antigo presidente sul-coreano, porque ele foi Nobel da Paz e fez muito para a aproximação das duas Coreias, pela democracia e pela paz no mundo. Por outro lado, com essa atitude, acho que eles também estavam à espera de alguma coisa.

Acha que foi um gesto de fachada?

Exactamente, porque eles sempre foram assim. É difícil distinguir entre aquilo que é verdadeiro e aquilo que é uma falsidade. A meu ver, é impossível confiar na Coreia do Norte, só com base nesses gestos. É preciso ver mais e também penso que a influência da China é fundamental. Como sabe, neste momento, a Rússia está muito mais afastada da Coreia do Norte e a China continua a manter relações. Tirando a China, não há nenhum outro país no mundo que apoie a Coreia do Norte.

Mas a China condenou o mais recente ensaio nuclear da Coreia do Norte…

A China condena de um lado e, se calhar, fica a rir no outro. Não mostra gargalhadas mas deve rir-se desses actos da Coreia do Norte, porque são sempre encarados como um desafio à América.

Como é que olha para a reunificação da Península Coreana?

Felizmente, não tenho nenhum familiar a viver na Coreia do Norte. Para mim, a reunificação é muito importante e fundamental para o desenvolvimento da Coreia e para a paz no mundo. A Alemanha conseguiu e quase todos os países já conseguiram acabar com o regime comunista. Só a Coreia do Norte mantém esse regime mas apenas pelo interesse dos dirigentes políticos, principalmente a família de Kim Il-sung, depois Kim Jong-il e, agora, esse Kim Jong-un. Aquilo é um regime monárquico comunista, uma coisa absurda. De qualquer forma, a reunificação é muito importante, porque a Coreia do Sul é a décima maior potência económica do mundo, mas só não tem ainda mais impacto porque tem de estar sempre preocupada com a defesa nacional, com a reunificação…é um peso muito grande para a Coreia do Sul. E a questão das famílias separadas pela guerra também é muito importante. Quando a guerra acabou, em 1953, os separados eram 10 milhões. Entretanto, já muitos faleceram, mas ainda existem muitos milhares separados, a que se somam os respectivos descendentes. Por isso é que defendo a reunificação. Porém, quanto a mim, a Coreia do Sul deve liderar esse processo como a Alemanha Ocidental liderou o processo de unificação com a Alemanha Oriental.

Quando diz isso, é porque defende que a reunificação avance sem a interferência dos Estados Unidos ou de qualquer outro país?

A meu ver, isso não é negativo, já que eles participam nas conversações a seis, sobre a questão nuclear. Além disso, acho que também estão a tentar ajudar no processo de unificação; eles, o Japão, a China e a Rússia. Penso que é uma mais-valia. No entanto, se as duas Coreias podem resolver essa questão entre si, não é necessária a intervenção externa. De qualquer forma, neste momento, sem a intervenção desses países é pouco provável que essa unificação venha a acontecer.

Já estivemos mais perto da reunificação?

Não digo que já estivemos mais longe. Penso que devemos estar cada vez mais perto, mas é um processo lento demais. Já andamos a conversar há 37 anos…

Mas não será uma pesada e perigosa herança para a Coreia do Sul, dada a fragilidade da economia norte-coreana?

Todos os sul-coreanos pensam que o processo de unificação não pode ser assim repentino. Tem que ter as suas etapas. Por isso é que a Coreia do Sul tenta ajudar a Coreia do Norte, para que o Norte se fortaleça do ponto de vista económico. Temos o complexo industrial de Kaesong e também investimos na Coreia do Norte, mandando turistas para a montanha de Kumgang, que fica do lado Norte. Tudo para que eles tenham mais divisa externa e riqueza. O complexo de Kaesong, por exemplo, tem tecnologia sul-coreana e os trabalhadores são norte-coreanos que estão a adquirir competências técnicas. Estamos a fazer este processo devagar, por etapas, só que muitas vezes existem os tais recuos que já mencionei.

O presidente que faleceu agora, Kim Dae-jung, começou com a política do sunshine – o raio do sol – e acho que foi uma ideia muito boa. Agora há muitos críticos dessa política…

Mas, com o actual presidente Lee Myung-bak, essa política está morta.

Não podemos dizer definitivamente que essa política morreu. Acho que ainda há esperança. Pode ser um pouco modificada ou moderada. Não tanto “esquerdista”, como dizem, mas se for moderada acho que podemos continuar. Considero-me também um pouco de direita, mas acho que a política do sunshine – para com a Coreia do Norte – tinha as suas vantagens. Claro que teríamos de adaptá-la às circunstâncias actuais, porque a Coreia do Norte fez, entretanto, testes nucleares e balísticos.

Sente-se mais coreano ou sul-coreano?

Quando estou na Coreia, sou sul-coreano. Quando estou fora, vejo-me mais como coreano. Muitas vezes, em Portugal, quando um desconhecido sabe que sou coreano, pergunta logo: é do Norte ou do Sul? E eu digo: sou coreano, porque como sabe a Coreia é uma Península e as duas Coreias partilham a mesma História e a mesma cultura. Até mesmo na Coreia do Sul, os jovens pensam da mesma maneira. Quando há um evento desportivo em que a Coreia do Norte participa com um terceiro país, os sul-coreanos apoiam a Coreia do Norte. Eu faço a mesma coisa. Por exemplo, em relação ao Mundial da África do Sul no próximo ano, ambas as Coreias foram apuradas e estamos todos muitos contentes. Se a Coreia do Norte tivesse sido eliminada, a maior parte do povo sul-coreano teria ficado triste. Por isso é que eu disse lá atrás que o problema está no interesse dos dirigentes políticos norte-coreanos que estão a reter esse processo de unificação. Não posso dizer que me sinta, a cem por cento, como fazendo parte de uma mesma nação, mas acho que a Coreia deve unificar-se o mais rapidamente possível. Não de forma abrupta, porque pode trazer muitos problemas. È um pouco contraditório, mas dentro do possível, a Península tem que ser rapidamente reunificada para sermos um só país.

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publico

A antiga secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, está em Lisboa para participar na conferência ministerial da Comunidade das Democracias.

A mulher que um dia ofereceu a Kim Jong-il uma bola de basquetebol, assinada por Michael Jordan, deu uma entrevista à jornalista Teresa de Sousa, do Público, onde defende:

Temos de restaurar o bom nome da democracia. Temos de nos empenhar na resolução do conflito do Médio Oriente, da Coreia do Norte e de uma série de situações urgentes. Impor a democracia não faz qualquer sentido. É uma contradição nos termos. Não faz qualquer sentido.”

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A vida em Yoduk

Este é um relato de uma dissidente norte-coreana que resistiu à prisão no campo de Yoduk.

Kim Young- soo conseguiu fugir para a Coreia do Sul e contou a sua história à organização não-governamental AIMS.

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reluctantcommunistcover

Durante esta curta pausa pascal, não consegui largar os olhos e as mãos deste livro.

É a história comovente de um sargento norte-americano que estava na Coreia do Sul (em finais dos anos 60 do século XX) e que, com medo de ser destacado para o Vietname, achou melhor desertar para a Coreia do Norte e lá (sobre)viveu 40 anos. Durante esse tempo, casou com uma japonesa que tinha sido raptada pelos norte-coreanos e, curiosamente, foi o amor que o salvou da “maior prisão do mundo”.

Charles Robert Jenkins passou esse tempo com mais três norte-americanos que – também por ignorância – cometeram o erro de desertar para a Coreia do Norte. Desses quatro, Jenkins foi o único que conseguiu escapar. Outros dois morreram lá (por doença) e, actualmente, apenas James Joseph Dresnok vive em Pyongyang. Jenkins conta no livro que Dresnok finge ser um norte-coreano convicto, para aguentar o isolamento e ganhar algumas contrapartidas do governo norte-coreano.

Há até um documentário britânico que se chama “Crossing the Line” (2007), em que Dresnok chama Jenkins de mentiroso (ver abaixo). Jenkins contrapõe dizendo que, neste filme, Dresnok só pode dizer bem da Coreia do Norte se quiser continuar a viver. Por isso é que o regime autorizou as filmagens…

O livro “The Reluctant Communist” é absolutamente contagiante e é mais um daqueles que mandei vir pela Internet, já que as prateleiras portuguesas ainda não têm espaço para estas geografias…

O documentário “Crossing the Line” também é um testemunho inédito, que foi disponibilizado há pouco tempo no YouTube. Está dividido em 9 partes.

Entre o livro e o documentário, descubra as diferenças…

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Samba no pé de Pyongyang

É já em Março que o Brasil vai abrir a primeira embaixada sul-americana na Coreia do Norte.

A casa da diplomacia brasileira vai custar 5 mil dólares por mês ao governo de Lula da Silva.

No total vão ser três funcionários e Arnaldo Carrilho é o embaixador destacado para animar o comércio bilateral.

Leia a entrevista ao embaixador pela jornalista Sofia Fernandes, do Jornal Folha de S. Paulo.

 

FOLHA – Qual a importância política da embaixada?

 

ARNALDO CARRILHO – A Coreia do Norte é um país muito visado.

Não necessariamente pela comunidade internacional, mas pelos países que têm os grandes vetores do poder diplomático no mundo, como China e Rússia. Costumo dizer que o Brasil não é só o primeiro país da América do Sul, mas o primeiro país das Américas a instalar missão diplomática em Pyongyang. Com a exceção de Cuba, que é, entre aspas, suspeita, por também ser socialista.

 

FOLHA – O comércio crescente entre os dois países é o que mais anima a nova missão diplomática?

 

CARRILHO – O Brasil já é o quarto parceiro comercial do país asiático. Os primeiros são China, Rússia e Coreia do Sul. Estou indo para incentivar o comércio, principalmente o de alimentos, de commodities. Eles precisam de carne bovina, suína, galináceo. Claro que não temos a pretensão de 100% de lucros. Mas o importante é entrar na região, por o pé lá. Estou pensando muito também no comércio de importação do Brasil de magnesita, útil para revestimento de fornos.

 

FOLHA – O sr. pretende incentivar que o Brasil compre da Coreia?

 

CARRILHO – Eu sou de uma geração imbuída de uma ideia: quanto mais eu promovo o país onde estou em missão, mais eu estou promovendo o meu. Se tivermos um aumento comercial significativo com a Coreia, a gente vai poder ter uma presença maior, não só na Coreia em si, mas no nordeste da Ásia, uma região nevrálgica.

 

FOLHA – Como planeja entrar nas negociações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte?

 

CARRILHO – Vou fazer um périplo rápido, antes de ir para Pyongyang, por cinco capitais: Washington, Tóquio, Seul, Pequim e Moscou. São as capitais que, com Pyongyang, formam o grupo das conversações para estudar a questão da desnuclearização do país. Quero sondar cada um deles, conversar sobre o que pretendem fazer a partir de agora. Dependendo do que ouvir, vou me posicionar. O Brasil pode ter um papel importante nas negociações.

 

FOLHA – A embaixada é um sinal de uma nova conduta da diplomacia brasileira?

 

CARRILHO – Passamos atualmente por uma expansão muito grande, de uma nova personalidade diplomática. O Brasil surge como uma grande nação da América do Sul que não tem alianças, nem aliados, não tem essa coisa de se impor. O que o Brasil quer é ter uma personalidade internacional de acordo com o seu caráter nacional. E o caráter nacional brasileiro é normalmente solidário.

 

FOLHA – Quais serão os desafios em Pyongyang?

 

CARRILHO – Vou ter de depender muito de Pequim. A Coreia do Norte não aceita o dólar americano, e nós somos mantidos no exterior a dólar americano. Isso vai nos forçar abrir uma conta em dólar, talvez em Pequim.

 

Além disso, é uma população toda educada para a construção do socialismo, com profundo complexo anti-americano. Será um outro tipo de “aproach”.

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Em tempos, Bernardino Soares disse ter dúvidas que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.

Hoje, em entrevista ao Correio da Manhã, o deputado PCP disse que não seria capaz de fazer férias no país de Kim Jong-il.

Correio da Manhã – Como vão ser as suas férias?

Bernardino Soares – Uns dias no Alentejo e Algarve e depois Espanha, na zona de Almeria. É uma área com pouca implantação turística e praias interessantes. Vou pelo segundo ano.

– É um destino caro?

– É mais barato do que algumas zonas em Portugal.

– Gasta muito dinheiro?

– Tento gastar o menos possível. A crise toca a todos…

– As férias são um luxo para burgueses?

– As férias são um direito dos trabalhadores. Infelizmente, cada vez menos trabalhadores podem gozar férias.

– Era capaz de ir fazer férias à Coreia do Norte?

– Não.

– Porquê?

– Já respondi…

(continuar a ler…)

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Em entrevista à Associated Press, o arquitecto do programa nuclear paquistanês, Dr. Abdul Qadeer Khan, disse que a Coreia do Norte recebeu do Paquistão um carregamento de centrífugas e equipamento para enriquecer urânio, no ano 2000.

Khan garantiu que foi tudo feito com o conhecimento do Exército paquistanês, comandado na altura pelo presidente Pervez Musharraf.

A entrevista de Abdul Khan foi feita por telefone uma vez que ele está em prisão domiciliária desde 2004, altura em que confessou ter sido o único responsável pela venda de tecnologia nuclear ao Irão, Coreia do Norte e Líbia.

Mas pelos vistos não é…

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Fogo à peça

                      [Foto: AP /Ahn Young-joon]

 

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Manifestantes sul-coreanos queimam retratos de Kim Jong-il e bandeiras norte-coreanas em protesto contra os mísseis testados ontem pela Coreia do Norte. 

Uma fonte militar sul-coreana garante que, para já, Pyongyang não dá sinais de estar a querer bisar os testes balísticos.

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[Foto de Jo Yong-Hak/Reuters – Presidente sul-coreano]

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É a primeira entrevista desde que tomou posse como presidente da Coreia do Sul.Lee Myung-bak deu uma conjunta ao Financial Times, ao China Economic Daily, ao japonês Nihon Keizai e ao coreano Maeil Business Newspaper. 

Lee diz que se a Coreia do Norte quiser receber ajuda do vizinho Sul deve considerar a hipótese de libertar prisioneiros de guerra e civis sul-coreanos. 

De acordo com o governo sul-coreano, mais de 540 soldados e 480 civis sul-coreanos –  maioritariamente pescadores – foram capturados pela Coreia do Norte durante a Guerra das Coreias (1950-53). Seul acredita que estas pessoas ainda estão vivas.  

Em troca da libertação, Seul promete a Pyongyang alimentos e fertilizantes.

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Esta é a reportagem que resultou da minha viagem à Coreia do Norte e que foi emitida a 24 de Setembro de 2006 na Antena 1. A montagem é de António Antunes.

“Coreia do Norte: um segredo de Estado” recebeu uma Menção Honrosa no Prémio AMI: Jornalismo contra a Indiferença.

Parte I


Parte II


Parte III

Parte IV



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