Depois do polémico post sobre o soldado Young Jin Han, cumpre-me partilhar convosco este artigo muito interessante da revista The Economist sobre uma sociedade fechada onde estão a acontecer paulatinas mudanças. Onde o capitalismo começa a espreitar por detrás da cortina. Onde o dinheiro serve de suborno a quem não quer ter problemas. Onde os habitantes conseguem ter, cada vez mais, acesso às noticias do exterior e estão a perder o medo de partilhar informação.
De acordo com o mesmo artigo, esta última mudança tem dois efeitos. Por um lado, quem acede a essa informação consegue, naturalmente, perceber as discrepâncias no que se refere ao nível de vida e, portanto, começa a não ter problemas de consciência em secundarizar o “amor” ao regime, para dar prioridade ao dinheiro e ao contrabando de produtos vindos da China. Por outro lado, a nova torrente informativa dá uma nova perspectiva da Coreia do Norte aos chamados “outsiders”. Ou seja, quase todos nós.
E no meio de tantas novas perspectivas, destaco a da jovem norte-coreana Jeon Geum que fugiu do seu país em 2011. Fugiu, não porque passava fome, mas porque – graças à informação que ia obtendo ilegalmente (através de filmes sul-coreanos e americanos) – sonhava poder usar jeans, jóias e conduzir um carro desportivo vermelho, ao mesmo tempo que usava óculos de sol.
Alguns dirão que os sonhos desta jovem eram fúteis, mas Jeon chegou a ser detida pelas autoridades só porque, um dia, usou um chapéu de inverno onde estavam escritas as palavras “New York”. Saiu em liberdade quando a mãe, comerciante do mercado negro, ofereceu duas dúzias de maços de cigarros à polícia.
Bem, a corrupção existe em todo o mundo, não é um fenómeno só da coreia do norte. Suponho que cá em portugal é ainda mais fácil recorrer ao suborno para “não ter problemas” do que na coreia do norte. Os ditadores de cá, os capitalistas, esforçam-se por não aparecer na televisão e fingir que são pobres, por isso é preciso andar mais atento para se conseguir apontá-los. Se a coreia do norte estiver a mudar espero que não seja na direcção do capitalismo como aconteceu na rússia com os resultados que se conhecem. Se houver mudança, que seja para um sistema melhor.
A tal rapariga já passeia no carro desportivo?
Um abraço.
@Francisco
Não sei em que é que se baseia para “supor” que em Portugal é ainda mais fácil recorrer ao suborno…
Há corrupção em Portugal, mas não ao nível de se subornar polícias para retirar pessoas da prisão.
Olá Paulo,
A corrupção em Portugal vai muito além de subornar polícias para retirar pessoas da prisão. Podemos afirmá-lo com bases muito mais sólidas do que as que usamos para criticar a “corrupção” na Coreia do Norte sobre a qual ainda sabemos tão pouco. Quando se trata da Coria do Norte quase sempre trabalhamos no campo da suposição, do hipotético, muitas vezes da pura mentira, ao passo que em relação a Portugal temos elementos muito mais objectivos com os quais trabalhar para tirar conclusões!
Um abraço.
por cá também há quem faça bonitos passeios em carros desportivos vermelhos com um cavalinho na frente (acho que se chamam ferraris), quem gaste 500 euros numa almoçarada de amigos, quem passe férias na casa de praia, etc.
e há 1.500.000 desempregados.
e 40% dos jovens com menos de 25 anos não tem emprego.
e pelo menos 250.000 trabalhadores foram forçados a abandonar o país nos últimos meses.
e há mais uma série de coisas bonitas.
isto para dizer que sim, o sonho dessa coreana é uma futilidade. deixa corado quem, como eu, tem 28 anos e não tem emprego, não tem vida, não tem futuro. quem, como eu, nunca teve nem terá a m**** dum desportivo vermelho nem dinheiro para jóias. o sonho dessa coreana, comparado com o meu sonho de ter um emprego, um salário e uma vida, não vale nada.
Confesso que ainda fico parva com alguns comentários que ou não percebem ou não querem perceber a ironia das palavras.
Mas eu explico, sem qualquer problema.
O post tinha como objectivo sublinhar que, na Coreia do Norte, até futilidades dão direito a prisão.
Portugal está uma merda? Está. Mas, pelo menos, que se saiba, ninguém é preso por verbalizar sonhos (mesmo que fúteis – como ganhar o euromilhões ou o totoloto) ou usar um chapéu que diga, por exemplo, “que se lixe o FMI”.
Em Portugal, o JMM ainda pode escrever o que lhe vai na alma como acabou de o fazer, com toda a legitimidade.
E melhor, em Portugal, podemos mudar, empreender ou virar costas e fazer um manguito ao país.
pois.
em Portugal podemos ser presos por não ter dinheiro para emigrar (http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=2043660), mas isso são outros quinhentos paus, desconfio eu…
Desculpe JMM, mas em Portugal podemos ser presos por roubar e não por não ter dinheiro para emigrar.
Conheço dezenas de amigos que também querem emigrar, mas não têm dinheiro sequer para a viagem.
Julgo que se o JMM fosse um cidadão norte-coreano seria preso à mais leve intenção manifestada de emigrar.
podes tratar-me por tu 🙂
ou seja, a conclusão é que na Coreia a emigração é proibida; em Portugal a emigração é permitida CASO tenhas dinheiro para tal. ora, tendo em conta a situação da imensa maioria dos jovens portugueses, acho que nunca a Coreia e Portugal estiveram tão perto. se eu soubesse desenhar fazia já um cartoon com as caras do Kim e do Passos. dizia o Kim:
“Pedro, aqui na Coreia não deixámos ninguém emigrar”
“Eheheh, nós aqui até deixámos, só que eles estão proibidos por outros motivos!!! ehehehe”
Valha-nos o sentido de humor 🙂
Acho que o que o JMM está a dizer é que há vários tipos de ditaduras e há diversas formas de controle, algumas mais óbvias, outras dissimuladas, quase subliminares, como se passa nas nossas sociedades, culturas e sistemas económicos. No sistema capitalista as nossas liberdades são directamente propocionais ao nosso poder económico, quanto mais dinheiro, mais liberdades. Os ricos concentram poder de tal modo que chegam a ter a “liberdade” de estar acima da lei e acho que isso é evidente para quase qualquer pessoa. Os que nascem pobres, têm liberdade somente para tentar sobreviver e contrariar um sistema que catalisa, reproduz e, no fundo, vive à custa da pobreza. As liberdades que temos existem apenas na medida em que favorecem o consumo e, favorecendo o consumo impulsionam a máquina que move o capitalismo, gerando dinheiro para uma pequena minoria.
Se ninguém é preso por verbalizar sonhos? Depende do sonho e depende de quem o verbalize! Não será por acaso que sempre que alguém aparece com ideias viáveis para energias alternativas morre de “causas naturais” muito pouco tempo depois!
Independentemente da lei ou dos valores fundamentais expressos na constituição, quem manda é quem tem dinheiro e exerce esse poder da forma mais arbitral possível!
Um abraço.
somos muito rápidos a criticar mil e uma coisas no sistema coreano, e é justo que o façamos. da mesma forma que, muito provavelmente, um coreano é rápido a criticar qualquer coisa no nosso sistema. faz-nos tanta confusão a nós aquilo que eles vivem lá como lhes fará a eles aquilo que nós vivemos aqui.
convém é respeitar a soberania deles (como eles respeitam a nossa), sem paternalismos ou choradinhos. eles não são coitadinhos. ou são apenas (sublinho o apenas) tão coitadinhos quanto nós.
JMM, acho que nos dá muito jeito criticar a Coreia do Norte e outros países fora da esfera de influência dos EUA e da NATO para fazer esquecer as contradições bem graves que temos por cá!
Um abraço.
e isto?
http://solidariedadecoreiapopular.blogspot.pt/2013/02/liberdade-para-ro-su-hui.html
Uiiiiiiiiiiii… agora imagina se tivesse sido ao contrário… havia de aparecer em destaque na maioria dos jornais, mas como neste caso a suposta repressão aconteceu no lado do sul nem sequer tem direito a uma pequena nota de rodapé!
A acreditar na notícia e na foto… amarraram o homem com uma corda?!?!?
Verdadeiramente escravo é aquele que se julga livre…
Eu sou de esquerda, mas creio que isso é o menos importante aqui 🙂
Desde que descobri, tardiamente (admito), o teu blog que faço questão de o visitar regularmente. É caso raro no panorama blogueiro nacional (até mesmo internacional).
E sim, acho que é motivo de orgulho para ti teres tantos seguidores – sobretudo aqueles que, alem de te lerem, colaboram contigo, debatem contigo, discutem contigo. Há algo mais salutar que isso? Acho que não.
Abraço
Nota: a mim não me dá jeito escrever contra uns a favor de outros, ou não tivesse eu criado o primeiro blogue em português sobre um dos países mais enigmáticos e controversos do mundo.
Já reconheci, por diversas vezes, as qualidades (também as há) dos norte-coreanos. Pelo menos daqueles que tive o prazer de conhecer. Também já sublinhei os julgamentos rápidos que se fazem de realidades que poucos conhecem.
Se não consigo dar seguimento a todas as notícias da península? Não. É por isso que conto com os meus leitores e que este canal está aberto e cada vez mais interactivo, agora também com página no facebook.
Não sou de esquerda, nem de direita. Sou de todas as direcções que forem ao encontro das minhas convicções pessoais e daquelas que, bem fundamentadas, me fizerem mudar de opinião.
Posto isto, gosto quando um post ultrapassa a dezena de comentários. Sinal de que estamos vivos, pensamos, discutimos. Podemos discutir.
Obrigada.
Realmente chega a ser insultuoso alguém que, estando desempregado mas tendo tempo e recursos para andar a ler blogues na internet, diga que o sonho do povo norte-coreano é uma futilidade comparado com o seu…
Mas enfim, só estão preocupados é com os ferraris dos outros. É típico do tuga: gosta de se exibir e inveja o que os outros possuem.
E aqueles que não têm o que exibir, criticam os que têm só por inveja. Que culpa tem o gajo que faz almoçaradas de 500€ que tu estejas desempregado? E que tal deixar de esperar que um emprego caia do céu e ser empreendedor e criar algo que te venha a permitir ter um ferrari no futuro?
Eu sei que me vão cair em cima, porque fui inflamatório de propósito. Mas é que custa-me ver as pessoas porem sempre a culpa nos outros e, neste caso, desprezar ou julgar que os seus problemas são muito maiores que os do povo norte-coreano…
oh Paulo, ora essa.
achas estranho um desempregado ter tempo livre? eu ficaria, sim, surpreendido se alguém empregado usasse o seu tempo para navegar na internet em vez de produzir. agora um desempregado…
achas estranho que eu tenha recursos para poder navegar na internet? felizmente posso usá-la gratuitamente na minha junta de freguesia (enquanto ela ainda existe e tem um edificio, porque o nosso desgoverno até isso nos tirou). e, adivinha!, eles deixam-me usar a internet mesmo para consultar blogs sobre a Coreia do Norte. são uns queridos 🙂
não foste nada inflamatório, lamento desiludir-te. foste, também tu, um querido. adoro quando as pessoas se preocupam comigo. quem diz comigo diz com os 1.500.000 outros desempregados destes país – esses malandros que não querem trabalhar e têm tempo livre e, pasme-se, até navegam na internet. esses malandros que não são empreendedores no país onde milhares de empresas fecham todos os meses. esses malandros que querem trabalhar em vez de querer ter um ferrari no futuro.
um abraço sentido, e muito obrigado pela força que me deste (acho que posso dizer “nos deste” e fazer referência a todos os milhares de desempregados malandros portugueses).
Ah, então é isso, os outros todos é que trabalham para pagar as instalações e os computadores que tu usas para aceder à internet. Está explicado!
Não tenho nada contra os desempregados e acho que é uma situação terrível. O desemprego é um cancro na sociedade e eu não desvalorizo isso nem o desespero que pode ser a vida dessas pessoas.
Agora, o que eu noto é que, em Portugal, a generalidade das pessoas não tem uma atitude positiva nem activa quando se encontra nessa situação. A maior parte dos desempregados age ou pensa que é uma obrigação da sociedade dar-lhe emprego… Infelizmente, em Portugal quem tem uma atitude mais corajosa são precisamente aqueles que emigram (ou aqueles raros que criam o seu próprio emprego) e procuram o seu emprego em vez de esperarem que o emprego os procure a si.
Espero sinceramente que a tua situação melhore muito em breve.
“E no meio de tantas novas perspectivas, destaco a da jovem norte-coreana Jeon Geum que fugiu do seu país em 2011. Fugiu, não porque passava fome, mas porque – graças à informação que ia obtendo ilegalmente (através de filmes sul-coreanos e americanos) – sonhava poder usar jeans, jóias e conduzir um carro desportivo vermelho, ao mesmo tempo que usava óculos de sol.”
Quantos africanos não fogem dos seus países para poderem cumprir sonhos bem mais modestos na Europa? Recordemos que esses africanos vivem em países CAPITALISTAS economicamente tão ou mais falhados que a Coreia do Norte. É ridículo o nível a que pode levar a cegueira ideológica. Oxalá a coreia do norte se liberte, e oxalá aquela gente possa cumprir o seu sonho no território norte-americano, que abrirá as fronteiras para receber de braços abertos TODOS OS 20 E TAL MILHÕES DE COREANOS. Está-se mesmo a ver, não é?