Faltava-me agradecer ao Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais da Universidade do Minho (CECRI), em particular à Marta Nunes, pela boa organização da tertúlia no dia 29 de Fevereiro, em Braga. Correu bem.
Por isso, é pena que a reboque desta iniciativa me tenha visto obrigada a denunciar o uso indevido (e abusivo) do verbo confidenciar.
No dia seguinte à minha participação na tertúlia, vejo que saiu no jornal A Bola um trabalho sobre a iniciativa na qual participei e ao qual me eram atribuídas afirmações que eu jamais proferi e que sempre condenei veementemente. Jamais confidenciei o que quer que fosse a um jornalista da Bola, simplesmente porque nem sequer fui entrevistada.
Nesse sentido, vi-me obrigada a recorrer às instâncias próprias e aguardo agora uma resolução do caso. Partilho convosco a queixa que já enviei, tanto para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, como para a Comissão da Carteira Profissional.
No corpo da notícia intitulada “O futuro da Coreia do Norte em tertúlia na Universidade do Minho”, assinada por Pedro Lobão – cujo número de Carteira Profissional de Jornalista não se encontra registado on-line na base de dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista – e publicada na edição eletrónica (on-line) do jornal A Bola (www.abola.pt), em 29.02.2012, e disponível no endereço http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=318582 (consultado a 16.03.2012):
- Atribui o autor Pedro Lobão as seguintes declarações à queixosa:
«A jornalista confidenciou a A BOLA algumas das experiências vividas na Coreia do Norte:
– A Coreia do Norte é um país isolado do resto do Mundo, é uma nação que obriga as mulheres a trabalhos forçados caso sejam apanhadas a usar calças, tem o quarto maior exército do planeta, não tem qualquer tipo de liberdade em escolher a religião, o cidadão não pode ir a nenhum sítio fora do Estado sem avisar primeiro as entidades e ainda são executadas ao vivo em estádios seres humanos. Enquanto lá estive não podia fotografar nada sem que depois as autoridades não pedissem para ver como tinha ficado a fotografia, não há internet e é interdito o uso de telemóvel. É um verdadeiro país parado no tempo.»
- Tendo participado a queixosa numa conferência pública, a convite da Universidade do Minho, a 29.02.2012, em Braga, sobre a realidade geopolítica na Península Coreana, em momento algum prestou declarações – muito menos «confidenciou» quaisquer experiências – ao autor da referida notícia;
- À queixosa são atribuídas declarações que em momento algum proferiu: a) no âmbito de uma conferência pública; b) em declarações a qualquer órgão de comunicação social; c) em particular, ao autor Pedro Lobão;
- O teor das declarações é difamatório. Em momento algum a queixosa – jornalista com experiência profissional direta na Coreia do Norte e, por esse mesmo trabalho, premiada publicamente – teceu apreciações ligeiras, simplistas, preconceituosas, estereotipadas e pouco informadas sobre um regime político e uma sociedade de profundíssima complexidade.
Perante tais factos, vimos por este meio instruir a presente participação, de modo a que possa a Entidade Reguladora para a Comunicação Social proceder às diligências legalmente previstas.
Mas é, ou não, verdade que “A Coreia do Norte é um país isolado do resto do Mundo, é uma nação que obriga as mulheres a trabalhos forçados caso sejam apanhadas a usar calças, tem o quarto maior exército do planeta, não tem qualquer tipo de liberdade em escolher a religião, o cidadão não pode ir a nenhum sítio fora do Estado sem avisar primeiro as entidades e ainda são executadas ao vivo em estádios seres humanos. Enquanto lá estive não podia fotografar nada sem que depois as autoridades não pedissem para ver como tinha ficado a fotografia, não há internet e é interdito o uso de telemóvel. É um verdadeiro país parado no tempo.”?
A questão está em sublinhar que estas afirmações nunca foram feitas, nem no contexto da referida conferência, muito menos numa entrevista ao referido jornal. Jamais disse ou escrevi coisas como “é uma nação que obriga as mulheres a trabalhos forçados caso sejam apanhadas a usar calças” ou “são executadas ao vivo em estádios seres humanos”.
Nem sempre simplificar uma realidade tão complexa é o caminho mais correcto.
E dizer isto não significa defender o regime norte-coreano. Significa antes que condeno afirmações sensacionalistas.
Estás a ver? Que tipo de credibilidade podemos dar ao que se lê ou vê na televisão sobre a Coreia do Norte quando tantas notícias são simplesmente inventadas como foi tão claramente o caso desta? Isto não é diferente da maior parte da desinformação veiculada pelos principais orgãos de comunicação, que se limitam a repetir as afirmações de fontes altamente duvidosas e de neutralidade questionável. No caso da Coreia do Norte, as acusações feitas ao governo, por mais mirabolantes, rocambolescas e inverosímeis que sejam, são sempre verdade, ao passo que os apelos ao respeito pelos mais elementares critérios de jornalismo e qualidade da informação são sempre de fundamentalistas de esquerda que deviam ir viver para pyongyang para verem como é bom.
A maior parte dos leitores de “A Bola” nem sequer fazem ideia do teu desmentido que espero espero que o jornal venha a ser obrigado a publicar. Quando as notícias vêm do exterior e são desmentidas muito raramente esse desmentido chega até nós, fica apenas a “notícia”.
JMM, o teu comentário parece até sugerir que é legítimo mentir quando o objectivo é dizer a “verdade” (a tua, bem entendido) sobre o que se passa na Coreia do Norte. A obrigação de informar não pode ser posta de lado em prol da propaganda ou das nossas convicções pessoais, caso contrário exercemos a mesma “lavagem cerebral” da qual tantas vezes acusamos o governo Norte-Coreano.
Se esta notícia foi inventada, tal como tantas outras, no que acreditar?
No nosso próprio juízo, espero eu!
Um abraço.
Bem pelo contrário, caro Diospiro. Sou o primeiro a criticar a desinformação, mentira, manipulação, branqueamento, deturpação, etc, sobre a Coreia. Por nada saber sobre a Coreia fiz essa pergunta. Quero mesmo saber se é, ou se não é, verdade aquilo que se diz por aí. Eu não creio que seja. Mas não consigo encontrar informação válida sobre isso.
Nesse caso peço desculpa, JMM, interpretei mal o que disseste. Pareceu-me que estavas a defender o conteúdo do artigo independentemente de ser verdade ou não o que lá estava escrito, está visto que não era isso. Deixei-me levar pelo padrão que encontro na maior parte dos comentários que tenho visto na net. As minhas desculpas.
Um abraço.