Há cerca de um ano, falei aqui do livro “Os Aquários de Pyongyang” e, nessa altura, estava muito longe de imaginar que algum dia viria a falar com o seu autor.
Pois bem, esta noite, jantei com Kang Chol-hwan, o próprio. Em 1977, aos nove anos, Kang foi condenado a dez anos de trabalhos forçados, com base num crime de desobediência política que o avô alegadamente cometeu. Ora, como Kang contou esta noite, na Coreia do Norte, quando alguém comete um crime, todos os membros da família são condenados. Kang passou fome ao mesmo tempo que era obrigado a trabalhar de sol a sol.
Os aquários aparecem no livro porque, antes de ser considerado como um traidor, Kang tinha um aquário enorme com muitos peixes dourados, na sua casa em Pyongyang (a família fazia parte da elite norte-coreana). Quando lhe disseram que ia para o campo de Yodok, Kang nem percebeu bem o que lhe estava a acontecer. Apenas fez birra para levar os peixes consigo. E conseguiu. Porém, a chegada de Kang ao campo de trabalhos forçados ficou assinalada pela morte dos peixes que não resistiram à viagem. O desgosto agarrou-se à pele. Durante dez anos, Kang foi como um peixe dentro de um aquário do qual não conseguia sair.
Em 1991, fugiu, finalmente, para a China e um ano depois chegou à Coreia do Sul, onde agora trabalha como jornalista.
Hoje, a Coreia do Norte anunciou que vai fazer-se representar nas cerimónias fúnebres de Kim Dae-jung. Aqui em Seul, esse anúncio está a ser visto como uma grande oportunidade para adoçar o tom azedo dos últimos tempos entre as Coreias, mas Kang Chol-hwan acredita que esta é mais uma manobra de diversão do regime de Pyongyang.
Kang aceitou ser fotografado com a versão portuguesa do meu (que é seu) livro na mão!
é um gosto perceber nas tuas palavras a emoção que sentes… espero que toda a viagem seja pautada por esse sentimento 🙂
bem… até me arrepiei. conheço bem o livro, como sabes… quanta honra e crescimento ter jantado com ele! 😉